domingo, 30 de dezembro de 2012

Blues

Poderia ser uma roda de samba na Bahia.
Mas é uma "roda de blues" no Mississipi.


O Blues é um ritmo negro nascido nos campos de algodão do sul dos Estados Unidos. Foi derivado dos cantos religiosos, conhecidos como spirituals, mas, desenvolveu-me mais como música caipira, feita para expressar as tristezas de uma vida dura, como era a rotina dos ex escravos, pobres e submetidos a todo tipo de humilhação e preconceito. Não raramente, o Blues esteve associado com os bairros de prostituição das cidades de maior porte, bem como com a música dor-de-cotovelo. 

Hoje, os negros formam um formidável mercado consumidor de 40 milhões de indivíduos de classe média nos Estados Unidos, algo invejável até para países de economia sólida e boa distribuição de renda. Isso foi possível graças ao sistema de formação acadêmica e profissional, antes proibidas aos negros, e que foi implantado à ferro e fogo pelo poder central a partir do governo Kenneddy (1961), contra a resistência dos estados racistas e conservadores. Isso se deu principalmente devido ao conceito de Reserva de Cotas Raciais,  ainda em discussão no Brasil, algo que aterroriza nossa classe média, assim como incutia medo nos norte americanos de 50 anos atrás.

O Blues também ascendeu socialmente. A partir das bandas inglesas dos anos sessenta, que nele se inspiravam, o ritmo foi gradualmente conquistando admiradores fora dos Estados Unidos. Hoje, faz parceria com o seu irmão siamês, o Rock and Roll, entre os estilos que mais rendem faturamento no mundo da música. Ainda que a venda de discos esteja decrescendo de forma radical, outros campos são abertos, como o da Internet e apresentações ao vivo, onde os cantores e bandas de Blues sentem-se à vontade e fazem grande sucesso.

Aqui, uma lembrança dos tempos pobres. O cantor e guitarrista B.B.King costumava se apresentar com esta canção nas penitenciárias dos Estados Unidos. Evidentemente, a grande maioria da platéia era formada por negros. Lá, como cá, a triste realidade social. Felizmente, algo mudou por lá, principalmente a auto estima dos cidadãos negros, em parte graças ao esforço de artistas como B.B.King, que tornou-se um mega star da indústria cultural e se apresentava para ricos e pobres, brancos e negros, pregando apenas a alegria de viver, idolatrado pela juventude roqueira européia e mundial. A revista norte americana Rolling Stone o colocou no pódium dos três melhores guitarristas da história, na companhia de Jimmy Hendrix e Eric Clapton.     








Não espere que as canções Blues sejam revolucionárias ou preguem transformações sociais. Não! Estas acontecem por conta do próprio movimento social. O que os bluezeiros querem é apenas balançar,  amar, sonhar  e cantar suas dores e alegrias. Como qualquer outra música do planeta ...

How Blue Can You Get ?

Ive been down hearted baby
Ever since the day we met
I said ive been down hearted baby
Ever since the day we met
Our love is nothing but the blues
Baby, how blue can you get?


Youre evil when im with you, baby
And youre jealous when were apart
I said youre evil when im with you, baby
And youre jealous when were apart
How blue can you get baby
The answer is right here in my heart


I gave you a brand new ford
But you said: i want a cadillac
I bought you a ten dollar dinner
And you said: thanks for the snack
I let you live in my pent house
You said it just a shack
I gave seven children
And now you wanna give them back
I said ive been down hearted baby
Ever since the day we met
Our love is nothing but the blues
Baby, how blue can you get?

Quão Egoista Você Pode Ser ?

Tenho estado com o coração pra baixo, baby
Desde o dia em que nos conhecemos
Eu disse que tenho estado com o coração pra baixo, baby
Desde o dia em que nos conhecemos
Nosso amor não é nada, além de melancolia
Baby, quão egoísta você pode ser ?



Você é má quando estou com você, baby
E você é ciumenta quando estamos distantes
Eu disse que você é má quando estou com você
E você é ciumenta quando estamos distantes
Quão egoista você pode ser, baby
A resposta está bem aqui no meu coração


Eu te dei um carro top da linha Ford 
Mas você disse: Eu quero um Cadillac
Eu paguei-lhe um jantar caro
E você disse: Obrigada pelo lanche
Eu deixei você viver na minha cobertura
E você disse que era apenas uma cabana
Eu te dei sete filhos
E agora você quer devolve-los
Eu disse que estou com o coração pra baixo, baby
Desde o dia em que nos conhecemos
Nosso amor não é nada além de melancolia
Baby, quão egoista você pode ser ?

Vai, Presidenta!

Dilma terminou o ano desautorizando qualquer crise. "Todas as falhas do setor elétrico foram produto de ações humanas. O Brasil é um país imune a apagões", disse, entre outras inacreditáveis fantasias. Se fosse homem, gaúcha que é, por adoção, Dilma seria comparada ao grande Capitão Rodrigo, da obra imortal de Érico Veríssimo, o aventureiro egoísta que só enaltecia a  si mesmo, "buenas e me espalho", era seu lema, assim que chegava a algum ambiente amistoso e logo se achava em casa; onde passava a cobiçar e paquerar as mais interessantes mulheres presentes, independentemente se o alvo fosse casada ou freira.  É o caso da nossa presidenta! A mídia nacional em peso, Globo e todas as demais, Folha, Estadão, até RBS, presentes na coletiva/café de imprensa promovida em Brasília pela Presidenta, nenhuma delas teve a capacidade/coragem de fazer qualquer pergunta questionadora. Dilma falou à vontade,  assim como todos os demais ocupantes anteriores de seu cargo em ocasiões semelhantes. Coisa de um país onde a imprensa exerce um papel muito importante: o de apoiar o governo, qualquer governo!

Levando pau de todo lado, sendo chamada de "golpista" pelos mensaleiros, de elitista pelos pseudo-esquerdistas no governo, enfim, nenhuma agressão vinda do poder parece ofender nossa imprensa. Ela continua no papel de enaltecer as qualidades do nosso tão desenvolvido modelo sócio econômico, responsável pelo grande crescimento que se verifica no país. Disso resulta a imensa popularidade dos Presidentes no poder, FHC que o diga! Passou oito anos bombando. Quando Lula assumiu, FHC virou automaticamente bandido. 

Quero ver quando o jogo virar  de novo, se é que um dia vai virar...  


sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Sobre Deus





O texto que segue é o melhor sobre Deus que li nos últimos 55 anos (desde que aprendi a ler). Inicialmente, pensei tratar-se de algo novo e contestador, próprio da juventude, embora tenha sido divulgado pelo pessoal da Eubiose, que eu considero bastante conservadores. No final, li o autor e a data da publicação original. Fiquei pasmo! Depois, fui ler na Wikipedia algo sobre Spinoza e vi que ele nasceu na Holanda, para onde sua família judaica havia se mudado, fugindo à perseguição da Inquisição portuguesa. Está explicado!

"Para de ficar rezando e batendo o peito! O que eu quero que faças é que saias pelo mundo e desfrutes de tua vida. Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti.

Pára de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa.
Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias. Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti.

Pára de me culpar da tua vida miserável: Eu nunca te disse que há algo mau em ti ou que eras um pecador, ou que tua sexualidade fosse algo mau. O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar teu amor, teu êxtase, tua alegria. Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram crer.

Pára de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo. Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar de teus amigos, nos olhos de teu filhinho... Não me encontrarás em nenhum livro! Confia em mim e deixa de me pedir. Tu vais me dizer como fazer meu trabalho?

Pára de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor.

Pára de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Se Eu te fiz... Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio. Como posso te culpar se respondes a algo que eu pus em ti? Como posso te castigar por seres como és, se Eu sou quem te fez? Crês que eu poderia criar um lugar para queimar a todos meus filhos que não se comportem bem, pelo resto da eternidade? Que tipo de Deus pode fazer isso? Esquece qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei; essas são artimanhas para te manipular, para te controlar, que só geram culpa em ti. Respeita teu próximo e não faças o que não queiras para ti. A única coisa que te peço é que prestes atenção a tua vida, que teu estado de alerta seja teu guia. Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso. Esta vida é o único que há aqui e agora, e o único que precisas. Eu te fiz absolutamente livre. Não há prêmios nem castigos. Não há pecados nem virtudes. Ninguém leva um placar. Ninguém leva um registro. Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno. Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso te dar um conselho. Vive como se não o houvesse. Como se esta fosse tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir. Assim, se não há nada, terás aproveitado da oportunidade que te dei. E se houver, tem certeza que Eu não vou te perguntar se foste comportado ou não. Eu vou te perguntar se tu gostaste, se te divertiste... Do que mais gostaste? O que aprendeste? 

Pára de crer em mim - crer é supor, adivinhar, imaginar.
Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti. Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas tua filhinha, quando acaricias teu cachorro, quando tomas banho no mar.

Pára de louvar-me!
Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja? Me aborrece que me louvem. Me cansa que agradeçam.
Tu te sentes grato? Demonstra-o cuidando de ti, de tua saúde, de tuas relações, do mundo. Te sentes olhado, surpreendido?...
Expressa tua alegria! Esse é o jeito de me louvar.

Pára de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram sobre mim. 
A única certeza é que tu estás aqui, que estás vivo, e que este mundo está cheio de maravilhas. Para que precisas de mais milagres? Para que tantas explicações? Não me procures fora! Não me acharás.

Procura-me dentro... aí é que estou, batendo em ti."

( Baruch Spinoza, filósofo, 1632 - 1677 )

Não é impressionante a lucidez deste homem? Como é possível que a seu tempo, quando os reis de Espanha queimavam bruxas na Plaza Mayor, em Madrid, pudesse haver alguém ou algum movimento que expressasse tamanho grau de liberdade?  Pensando nesta fantástica contradição, lembrei-me de Bach, o alemão nascido em 1685, que passou a vida a serviço da igreja, mas, promoveu a maior transformação ocorrida na teoria musical, a escala temperada, base de toda a música ocidental.   O maior especialista em Bach de todos os tempos é um coral de Londres. Ouvindo o Monteverdi Choir, cheguei a conclusão de que a graça divina sempre esteve em todas as eras. Os homens é que lhe jogam sombras, por que não suportam o brilho de sua Luz.





quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Canções para a solidão das estradas



--"Desça deste cavalo e passe a noite comigo. Eu te amo, Henry, e tudo de melhor que tiver eu te oferecerei".
---"Eu não posso descer e passar a noite com você. Uma outra pequena e linda garota espera por mim em Cornersville, e eu a amo mais que tudo nesta vida".

Assim começa a canção "Love Henry", mais um romance de cowboys estradeiros, dos muitos que Bob Dylan recolheu do folclore e recriou,  na sua sina de retratar o velho oeste norte americano.  A música típica que embalou aquele período da história foi o ritmo hoje conhecido como "countrie", cheia de erros de gramática e muito pouco literária, fazendo mais o estilo seco, direto e cruel, pois, na verdade os vaqueiros e trabalhadores envolvidos nas disputas e nas guerras da conquista, eram quase todos analfabetos, com pouca erudição cultural. Ainda assim, a conquista do oeste entrou no imaginário mundial como algo fantástico e grandioso.   A Europa logo se encantou com os cowboys e suas histórias. Muitos espetáculos se realizavam nos teatros mais chiques daquela época, estrelados por rudes cantadores de voz rouca e poucos recursos musicais. Sua principal atração e motivo de admiração geral eram as canções de estrada, as baladas que retratavam o novo continente que se construía do outro lado do oceano. Há notícias de vários espetáculos em teatros chiques de Paris, Viena, Londres, etc, principalmente no período da guerra civil, 1860-1865. 

Esta canção cowboy específica, que abre esta crônica, tem suas origens provavelmente na Escócia nos anos 1700. Termina de forma trágica, como muitas vidas jovens daquele tempo, ceifadas por equívocos monumentais, como a morte do jovem cowboy assassinado com uma facada certeira pela jovem enciumada, que o queria só para si, após seduzi-lo a baixar a guarda e acompanhá-la num bom whiskie de milho, enquanto o amanhecer não chegava.  

---"Levante vôo, meu pequeno pássaro colorido e aqueça meu joelho direito. As portas da sua gaiola serão revestidas de ouro e estarão suspensas num pé de salgueiro".
---"Eu não posso voar, eu não quero voar e aquecer seu joelho. Uma garota capaz de matar seu verdadeiro amor, também mataria um pequeno pássaro como eu".





A maioria das canções herdadas desse período não possuem origem comprovada nem "certidão de registro", apenas especulações e lembranças desgarradas umas das outras, inviáveis para serem consideradas provas históricas. Essa que vem a seguir, provavelmente veio da Inglaterra nos anos 1830. Foi um importante sucesso nos anos 1960 e 70, gravada por músicos famosos. A balada conta a história de uma moça que se disfarça de marinheiro, afim de embarcar num navio e seguir  em busca de seu amor, Jack-a-roe, que desertou de seu pelotão durante uma guerra e fugiu. Ela vai atrás dele na América.  





O filme "Brother, where art thou?", uma dos obras primas dos Irmãos Cohen, está repleto dessas canções de cowboys brancos, juntamente com famosos spirituals negros. A música mais tocada naquele filme, apresentada em várias versões, é "Man of Constant Sorrow",  cuja origem provável está na Irlanda dos anos 1880. Foi adaptada pelos colonos irlandeses e contextualizada ora para o Kentucky, ora para o Colorado. Em todo caso, é um "sofrimento constante" apenas alegórico, embora pudesse ter sido verdadeiro na Irlanda de 1880. Por detrás das reclamações do cantante, está sua esperteza em fugir do trabalho pesado e sonhar com uma montanha mágica onde não existe ladrões de gado nem polícia, onde não é necessário trocar as botas e meias e onde se pode mergulhar num lago de whiskie ou colher cigarros diretamente das árvores. 








quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Tempo bom








--- O senhor acha que eu teria condições de ir para a Polícia do Exército?

O velho capitão médico do 20º Regimento de Infantaria do Bacacheri, ficou um tanto pensativo e me olhava de cima abaixo naquela tarde de sexta feira,  num  longínquo ano  de 1970.   Eu era um pouco mais alto e robusto que ele, mas, sem dúvida, muito abaixo das qualificações físicas dos soldados que havíamos destinado ao 1º Batalhão de Polícia do Exército, situado no Rio de Janeiro. 

--- Meu jovem, quem tem que achar aqui é você, por isso lhe perguntei para onde você quer ir.  Cumprir essa sua vontade é o mínimo que posso fazer,  por sua ajuda aqui nessa bagunça.  Eu, no seu lugar, iria pra casa. 

--- Pois bem, se  é assim, eu gostaria que o senhor me indicasse para a Polícia do Exército do Rio de Janeiro.

Assim, sem mais nem menos, eu conseguia o objetivo de iniciar uma carreira militar no quartel mais famoso do Brasil durante os tenebrosos anos de chumbo da ditadura militar.  Mesmo sem possuir as qualificações físicas dos demais colegas, que acabaram me apelidando de “grilo”, devido a minha aparência pequena diante dos demais soldados, eu havia batalhado a semana toda para organizar e manter funcionando o serviço de arquivo da equipe que selecionava os   recrutas da 5ª Região Militar, em Curitiba.

Quando saí de Maringá para me alistar em Curitiba eu já tinha um propósito em mente: “Vou sentar praça no exército, chegar ao posto de sargento e correr o Brasil. Ao mesmo tempo vou desenvolver a carreira de escritor”, que era, na verdade, o que me interessava.  

Para isso eu não perdia qualquer oportunidade que me facilitasse este sonho, tão simples, ingênuo e inviável. Eu me inscrevia como voluntário para qualquer atividade aonde pressentisse alguma ajuda intelectual, desde elogiar palestrantes em museus e teatros no ambiente artístico de Maringá, onde eu atuava como locutor de rádio, até escrever crônicas que nunca foram publicadas no jornal conservador local.

Depois de dois meses de ordem unida na Rua Barão de Mesquita, Tijuca, tivemos nossa primeira licença para deixar o quartel e conhecer a “cidade maravilhosa”, com uma polpuda ajuda de custos nos bolsos da farda nova, vestimenta de luxo para a grande maioria daqueles colonos e pés-vermeios, agora convertidos em respeitados “Catarinas”, tropa de elite que se renovava ano a ano na Guanabara.

Quando chegávamos em patrulha na Lapa ou na zona do Mangue, os malandros abaixavam os chapéus para esconder o rosto e era bonito ver Madame Satan se levantar de sua mesa para nos cumprimentar na noite da Cinelândia.  Todos tínhamos por ele um grande respeito e temor, pois era famosa sua capacidade de enfrentar sozinho uma patrulha inteira de soldados.  Agora, depois dos 70 anos, ele já não representava perigo, em sua impecável camisa branca de seda, tratado com reverência mística pelos garçons em cada bar que entrava. Na juventude, foi o malandro mais famoso da Lapa. É dele uma frase antológica, numa entrevista ao Pasquim em 1971, quando  afirmou "Eu nunca matei ninguém, só fiz os furos, quem matou foi Deus". Passou metade de sua vida na cadeia. Numa briga de rua em 1955, assassinou o sambista Geraldo Pereira, autor de grandes clássicos como Acertei no milhar Sem compromissoPisei num despacho, etc.

A "viadagem" se agitava sempre com a nossa chegada, fosse  na Cinelândia ou nos meios intelectuais de Copacabana e Ipanema. Grandes atores e escritores famosos eram doidinhos por um "catarina" bem dotado; e alguns de nossos colegas acabaram se casando com homossexuais ricos, que lhes davam tudo do bom e do melhor. Eu, heim? rs rs rs.

Roda de samba era comum e segura! Subíamos Mangueira, Salgueiro, Borel ou Jacarezinho, e ninguém contestava nossa presença, a não ser um ou outro com ciúmes da mulata,  logo acalmado por seus pares, que não queriam problemas com a soldadesca... Traficante praticamente não existia e bandido era tão raro, que era mais fácil vê-los em filme de caubói americano nos cinemas da Praça Saenz Peña, Tijuca, um bairro de classe média, cujas empregadinhas adoravam namorar os "catarinas" da PE pelas pensões do bairro.   Hooo, tempo bom!





quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Caos Energético. "Mais do mesmo..."

Eu gostaria de entender o critério da ANEEL para conceder reajustes das tarifas de energia elétrica na faixa de 12 a 15% ao ano, contra uma inflação oficial de 5%. Os governos siameses de Tucanos e Petralhas conseguiram o milagre de cometer uma das mais altas tarifas energéticas do planeta, num país com uma das melhores condições naturais de produção energética sustentável e barata. Uma usina como as que os Tucanos privatizaram no Rio Iguaçu, tem custo operacional abaixo dos 10% do preço final de venda ao consumidor. Esta incrível margem de 90% é apropriada pelo estado brasileiro, na forma de impostos, e transferida às matrizes em crise no exterior pelos capitalistas estrangeiros, que "compraram" cada usina pela bagatela média abaixo de 500 milhões de dólares nos anos 1990. Isso lembra a personagem de um programa humorístico antigo da televisão: "brasileiro bonzinho, né?".  O preço previsto de construção de Belo Monte Xingú, uma usina que vai funcionar à plena capacidade apenas tres ou quatro meses por ano, está orçada na faixa de 15 bilhões de dólares. Pode tranquilamente passar de 20 bi, a depender do câmbio e "jeitinhos brasileiros". 



Mas, não pense que todo mundo paga caro. Os mil maiores consumidores do país, normalmente grandes plantas industriais de extração mineral ou siderúrgica, de capital estrangeiro, pagam apenas 20% dos CUSTOS médios DE PRODUÇÃO, ou seja, dão um prejuízo de 80% ao sistema de geração e transmissão. Não vamos perguntar quem paga essa diferença, certo?, pois a resposta é obvia.  

Quer dizer, os tucanos privatizaram a mineração (Vale do Rio Doce) e as siderúrgicas  (Volta Redonda), além de que montaram a sala de visitas para as grandes exploradoras de alumínio e outros minerais estratégicos na Amazônia. Todas consumidores intensivos de energia elétrica. A usina de Tucuruí Tocantins, por exemplo, pouco serve aos povos amazônicos, que vivem na miséria e no escuro, mas, sai quase de graça às multi nacionais canadenses. Para mudar tudo, de forma que tudo continue como está, os Petralhas sustentam o velho sistema oligárquico de tirar dos pobres para dar aos ricos. Dá até para entender porque Lulla não quis a CPI da Privataria.

Agora, vem por aí um confronto de dimensões imprevisíveis. As companhias energéticas do Paraná, São Paulo e Minas Gerais, as maiores do país, todas de governos estaduais tucanos, resolveram não aderir ao programa (correto) de Dilma, para redução de tarifas. Quer dizer, na verdade não vai reduzir p* nenhuma, pois o que Dilma vai tirar com a mão forte do poder concessionário, a ANEEL vai devolver com o poder real do reajuste leonino a serviço das empresas. Mas, a questão é que se estabelece um confronto federativo entre a Nação e seus principais estados produtores de energia elétrica. Dilma terá coragem de cancelar as concessões de CESP, CEMIG e COPEL?   Depois do que doou ao Rio de Janeiro na questão Petróleo?

No passado recente, os tucanos-pefelistas tentaram privatizar a COPEL. Foram impedidos pela força da manifestação popular e pela campanha cívica promovida por sindicatos e entidades do movimento popular de então.    



Hoje, os principais líderes que impediram a venda da COPEL aos investidores franco-belgas que compraram a Eletrosul, estão no sistema de poder ocupando cargos no governo federal. Portanto, já não contam como massa crítica, por comprometidos que estão.  Quanto à oposição,definitivamente, eles não são do ramo. Estão  paralisados, perdidos na esperança insensata da morte de Lulla ou que ele caia de maduro,  algo improvável, desde que este cidadão lhes tomou os currais eleitorais do fundão do país e das periferias urbanas, como ficou claro na eleição agora de São Paulo. 

Quando o governo FHC ensaiou privatizar a maior geradora nacional,  FURNAS,o governador Itamar Franco colocou as tropas da PM mineira numa usina daquela empresa e ameaçou desapropriar todas as suas instalações dentro do estado de Minas Gerais. Os tucanos recuaram e acabaram privatizando apenas a federal Eletrosul, por que aqui em nossa bela e santa Catarina eles mandavam e desmandavam, não havia e ainda não há oposição que pudesse ser levada em conta. Ninguém resistiu pra valer à privatização das usinas da Eletrosul. Aliás, as únicas contas que ganharam com "aquilo" foram as bancárias de certos cidadãos bem postados, certamente localizadas em certos paraísos fiscais. Se me processarem por isso, ainda vou parar na cadeia. Claro que não há provas formais disso que vos falo.  

Hoje, felizmente os tempos são outros. Várias pesquisas buscam alternativas energéticas, como faz acreditar a propaganda da Eletrosul veiculada nos rádios e televisões. Uma dessas  "importantes pesquisas" é feita pela ONG do ex deputado federal Mauro Passos,  ex sindicalista e amighinho da Diretoria. Eu estive conversando com um verdadeiro cientista da universidade federal, ocasião onde ele disse ignorar as "pesquisas" de Mauro Passos, que recebe verbas diretamente do caixa da Eletrosul, obviamente sem licitação ou maiores preocupações com lisuras comerciais e científícas. Pra quê rigores éticos, se os resultados de tais investimentos tecnológicos são tão visíveis na área da energia do sol. Ou seria dos ventos??? 


PERVERSIDADE DA MATÉRIA


Depois de anos de intensa pesquisa acadêmica sobre o mundo moderno, tentando entender como funcionam as organizações e as pessoas em sociedade, finalmente lanço a público o guia prático sobre as leis da perversidade da matéria. 

1- GUIA PRÁTICO DA CIÊNCIA MODERNA:

1. Se mexer, pertence à Biologia.
2. Se feder, pertence à Química.
3. Se não funciona, pertence à Física.
4. Se ninguém entende, é Matemática.
5. Se não faz sentido, é Economia ou Psicologia.
6. Se mexer, feder, não funcionar, ninguém entender e não fizer sentido, é INFORMÁTICA.

2- LEI DA PROCURA INDIRETA:

1. O modo mais rápido de se encontrar uma coisa é procurar outra.
2. Você sempre encontra aquilo que não está procurando.

3- LEI DA TELE-COMUNICAÇÃO:

1. Quando te ligam: se você tem caneta, não tem papel. Se tiver papel, não tem caneta. Se tiver ambos, ninguém liga.
2. Quando você liga para números errados de telefone, eles nunca estão ocupados.
Parágrafo único: Todo corpo mergulhado numa banheira ou debaixo do chuveiro faz tocar o telefone.

4- LEI DAS UNIDADES DE MEDIDA:

Se estiver escrito 'Tamanho Único', é porque não serve em ninguém, muito menos em você...

5- LEI DA GRAVIDADE CONJUNTURAL:

Se você consegue manter a cabeça enquanto à sua volta todos a estão perdendo, provavelmente você não está entendendo a gravidade da situação.

6- LEI DOS CURSOS, PROVAS E AFINS:

80% da prova final será baseada na única aula a que você não compareceu, baseada no único livro que você não leu. 


7- LEI DA QUEDA LIVRE:

1. Qualquer esforço para se agarrar um objeto em queda, provoca mais destruição do que se o deixássemos cair naturalmente.
2. A probabilidade de o pão cair com o lado da manteiga virado para baixo é proporcional ao valor do tapete.

8- LEI DAS FILAS E DOS ENGARRAFAMENTOS:

A fila do lado sempre anda mais rápido.
Parágrafo único: Não adianta mudar de fila. A Lei continuará valendo.

9- LEI DA RELATIVIDADE DOCUMENTADA:

Nada é tão fácil quanto parece, nem tão difícil quanto a explicação do manual.

10- LEI DO ESPARADRAPO:

Existem dois tipos de esparadrapo: o que não gruda e o que não sai.

11- LEI DA VIDA:

1. Uma pessoa saudável é aquela que não foi suficientemente examinada.
2. Tudo que é bom na vida é ilegal, imoral, engorda ou engravida.


12- LEI DA ATRAÇÃO DE PARTÍCULAS:

Toda partícula que voa sempre encontra um olho aberto.

13- COISAS QUE NATURALMENTE SE ATRAEM

Pobre e funk
Mulher e vitrine
Homem e cerveja
Chifre e dupla sertaneja
Carro de bêbado e poste
Moeda e carteira de pobre
Político e dinheiro público
Leite fervendo e fogão limpinho
Dedinho do pé e ponta de móveis
Camisa branca e molho de tomate
Tampa de creme dental e ralo de pia
Café preto e toalha branca na mesa

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Nasci debaixo de um pé de café





Fui criado num vilarejo do norte do Paraná, entre violeiros e lavradores, que se encontravam nas vendinhas, lá pelas horas das ave-marias. Dizem que alguns desses inspirados caboclos até negociavam com o diabo, para que as cordas soassem com brilho, tanto as de aço como as vocais, e ajudassem a causar boa impressão nas mocinhas. O sucesso dessas empreitadas junto ao corisco perigoso, não cheguei a constatar, por que cedo deixei aquele paraíso da infância e fugi em direção às capitais, onde estou até hoje. Moro na Ilha de Santa Catarina, onde está a cidade de Florianópolis. Aqui crio minhas galinhas, cuido das flores e do pomar, levo minha vida simples e escrevo coisas que até deus duvida! Também canto, mas sem o mesmo brilho dos que fizeram o pacto. Sentindo saudades da terra natal, plantei alguns cafeeiros no meu quintal, mas, eles nunca deram flores. 


Quando eu criei este blog de crônicas, era para guardar aqui os textos que antes eu espalhava pelos ares. Perdi vários deles em quedas abruptas provocadas pelos ventos soprando em diversas Windows, fazendo-os cair ao chão e ficarem em estado irrecuperável. Outros, recuperei de velhas missivas eletrônicas trocadas com outros computadores, prosas carquejadas pela ferrugem do tempo. Ainda outros, os recuperei de arquivos perdidos alhures em várias pastas escondidas no meu próprio computador. Então, ficaram todos juntos num único depósito virtual. Ali, tenho assunto para qualquer conversa. 
http://laerciodoarte.blogspot.com.br/2012/02/cuentos-dela-frontera-estavamosos-dois.html


Utilizo fartamente o recurso preferido dos cronistas sem assunto. Falarei de mim mesmo! Minhas crônicas sempre trazem no espaço no lado direito da tela, um pequeno texto à guisa de auto apresentação, onde eu afirmo categoricamente na primeira frase que "nasci debaixo de um pé de café". Nada mais verdadeiro!  Assim que fui desmamado, lá pelos seis meses de vida, fui apresentado a um belo copo de café com uma gema de ovo jogada lá dentro, afim de aproveitar o calor do líquido e torná-la levemente palatável a um bebê ainda sem dentes. Disso resultou uma saúde de ferro e o primeiro vício: cafeína, rs rs rs. Depois, toda minha vida foi pautada pelas flores do cafeeiro, seus frutos vermelhos que aos pouquinhos iam ficando pretos, até serem colhidos, torrados, moídos e embalados na fábrica onde trabalhava meu velho pai. No páteo da fábrica se espalhava o sub produto do processo de fabricação: montanhas de palhas de café, formando perigosos sulcos que podiam engolir os pequenos brincalhões, fonte permanente de pânico para as abnegadas mães. Os primeiros rubores apaixonados da adolescência foram sofridos entre milhares de cafeeiros recobertos de flores branquíssimas, a esconder as folhas verdes que guarneciam cada pé de café, os pequenos arbustos formando campos inteiros de noivas estilizadas, com seus imaginários vestidos brancos. Ali, apenas apreciando a beleza indescritível de um cafeeiro florido, aprendi a escrever, enquanto sentia o aroma sem igual das toneladas de grãos pretos sendo torrados em grandes fornalhas, espalhando um certo cheiro viril e arrebatador da fumaça preta por todo o sertão do Pindura Saia. 

http://laerciodoarte.blogspot.com.br/2012/02/grande-sertao-veredas-da-alma.html


Muito antes de ser homem e ter escolhido o Campeche para viver ... 
http://laerciodoarte.blogspot.com.br/2012/02/jornada.html       

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Viajando dentro de um casulo





Entrei na Rua Francisco Dias Areias, localizada no bairro da Trindade,  e subi direto, passando da casa onde fica a sede do Centro de Metafísica Atman Amara, da mesma forma que já houvera feito na quarta feira passada,  quando fomos assistir a palestra do terapeuta Rafael de Souza, facilitador do trabalho denominado "Casulo", para o qual eu finalmente havia me inscrito, apesar de todo o medo do novo que me inaugurava naquele estilo terapêutico.  Felizmente eu havia decorado o número da casa e fiz retorno, percebendo que o local já havia passado.

Ao chegar na casa, já atrasado, a diretora Bárbara Machado, que foi minha mestra de iniciação no Reiki,  foi logo sapecando: "É melhor acertar o pagamento agora, por que depois você pode sair do ar, né...".  Eu, que já vinha meio assustado pelo caminho, tive um ligeiro estremecimento e brinquei, pra disfarçar a ansiedade: "É, pode ser também que eu acabe desistindo no meio da sessão, né, então é melhor garantir o faturamento já.".  Ela deu um sorrisinho amarelo, meio envergonhada, e foi aí que  percebi que sua pequena gafe deu-se por conta da completa inapetência para os assuntos comerciais. Também entendi o motivo pelo qual a placa que identifica o Centro  não dá pra ver da rua, pois está colocada na parede do piso inferior, quando o cliente já adentrou à casa e se dirige para as salas de trabalho. Percebi que a discrição, aliada a uma certa ineficiência marquetológica, é parte integrante da filosofia desse pessoal ligado aos movimentos inspirados na Teosofia, espécie de relicário de conceitos  espiritualistas orientais,  sistematizada no final do século XIX pela mística russa Helena Bravatski, da qual derivaram alguns dos principais movimentos esotéricos do século XX.




O Rafael, responsável pelo trabalho do "Casulo", apesar de muito jovem, já é um experimentado xamã e terapeuta corporal, trabalhando também com as técnicas da  Sauna Sagrada. Passou por vários caminhos, incluindo ritos amazônicos, e seu foco atual está no trabalho com sons atávicos, associados à aromaterapia, usando intensamente plantas medicinais e do universo memorial e emotivo do cliente. Ele explicou-me que eu seria colocado deitado sobre um colchonete, envolvido por cobertores, e que eu deveria unicamente prestar atenção no que acontecesse, fosse o que fosse.

Sobre minha barriga seria colocado um recipiente de couro contendo o chá derivado das plantas que eu trouxera, mais algumas que ele próprio havia providenciado. Disse que o chá iria aquecer meu corpo e que o trabalho demoraria entre 60 e 90 minutos, mas, eu não deveria me preocupar com isso, pois ele estaria o tempo todo ao meu lado e dirigiria o trabalho.

E assim foi. Durante algum tempo eu ainda estava muito tenso, aflito diante do desconhecido e do imponderável,  e, por isso mesmo, a respiração profunda a que me propunha se dava com alguma dificuldade. Através de exercícios de relaxamento muscular, associados às técnicas respiratórias, fui perdendo o medo e me deixando conduzir pelas sensações provocadas pelos cheiros e pelos sons atávicos.  Os aromas não vinham apenas do chá, sobre minha barriga, mas também das plantas espalhadas ao natural ao lado do colchonete e, principalmente, vaporizados pelo terapeuta a partir de frascos que ele mesmo havia preparado, como parte de seu instrumental permanente de trabalho, que incluem também incensos e velas.

Assim como os aromas, os sons também me influenciavam para sentir prazer ou desconforto. Diante de alguns cheiros-sons eu entrava num estado de plenitude e, diante de outros, o pânico batia às portas da minha sensibilidade. O que me ajudou muitíssimo a passar ambas as experiências, foi a orientação que recebi para que apenas observasse. Então, procurei não intervir em nada, de modo que mesmo as sensações desagradáveis não atingiam o estado de pavor, por que estas perdiam importância no exato momento em que minha consciência se dava conta de que não passavam de fantasia. Se as sensações estavam relacionadas a alguma situação penosa, acontecida na infância, por exemplo, o ato de simplesmente observar devolvia-me à realidade de que aquilo deu-se no passado remoto e não mais faz parte da minha realidade presente. Isto foi fundamental para que o pânico não tomasse conta de minha mente, em determinados momentos de angústia, nos quais minha boca secava e eu me parecia sufocar.  E assim também foi com os momentos de êxtase. Eu sempre procurava não perder a consciência, ou seja, não entrar no moinho de energias que conduziam para o estado de prazer absoluto, que eu sabia estar relacionado com a proximidade do prana  cósmico, da energia universal, ou seja, do contato com a energia da Fonte Divina.

Num certo momento, que não sei precisar a duração, meu corpo vibrava ao som da música. Dos meus pulmões saia um ar bendito, passando pelas cordas vocais, que produziam um som parecido com o "OM", o som do universo na mitologia indiana, e eu sentia que era fundamental expressar aquele som. E quanto mais minha respiração se aprofundava no processo, quanto mais demorada era a etapa de expelição do ar pela voz, mais prazeroso se tornava.  Era um prazer orgástico!

Tentando sempre manter a condição de observador, e apenas neste papel, penso que tenha me ajudado  a fazer uma limpeza consciente das manchas que estão agregadas à minha estrutura de caráter, devido aos longos anos de adaptação às condições do mundo externo, competitivo e repressor. Como também sabemos, este é um dos fundamentos da teoria do encouraçamento muscular, estudada profundamente por Wilhelm Reich no início do século passado, e que resultou no desenvolvimento da Bioenergética. 

Por duas ou três vezes vi uma luz muito brilhante (note-se que eu estava de olhos fechados, com uma toalha cobrindo os olhos) e racionalizei na ocasião que o terapeuta havia colocado uma destas lanternas à lazer para iluminar meu rosto, tamanha era a intensidade do brilho (não riam, crianças!).  Posteriormente, depois da sessão encerrada, eu lhe perguntei se houve isso e ele me garantiu que nunca acendeu qualquer lâmpada na sala e especulou se, por acaso, eu não havia enxergado o brilho das velas que estavam acesas, atrás da minha cabeça. Com certeza não, eu concluí, pois a luz era bem na vertical e muito mais intensa do que uma vela poderia brilhar. Ainda não ouso especular sobre a origem ou o significado daquela Luz. Só espero que ela continue me acompanhando pela vida afora ...



O que posso dizer é que foi uma das meditações mais profundas que já experimentei em minha vida atual, uma vez que não tenho acesso aos registros akáshicos no meu corpo mental, para avaliar como foram as experiências em outras vidas,  rs rs rs. Quando o trabalho terminou, havia se passado cento e poucos  minutos e, ao voltarmos para a sala de recepção do Centro de Metafísica, a Bárbara me olhou e comentou: "Puxa vida, você é outra pessoa, heim?" E eu perguntei: "Como sabes?", ao que ela completou: "Ora bolas, o teu rosto está dizendo isto!"


Então caímos todos numa gostosa gargalhada.  E eu saí para a rua, leve como um passarinho,  na monumental noite domingueira de Floripa.




terça-feira, 23 de outubro de 2012

Tres momentos de um cavalo louco



Quando John Lennon decretou que The Beatles eram mais populares do que Jesus Cristo, houve um assombro de indignação no mundo conservador. Apesar disso, ele estava certo. Se fosse considerar a popularidade dos Beatles no Japão e outros países asiáticos, na União Soviética, na África e no Oriente, os fans da banda de rock eram em número bem maior que que os cristãos que habitavam o mundo.  Depois, Lennon prosseguiu com suas provocações sutis e inteligentes,  constatando que "o sonho acabou". Referia-se, claro, ao imaginário hippie de construção de um novo mundo, baseado (opa!) no amor e na paz, contra a guerra e o ódio. Daí houve outro assombro de indignação, só que agora entre os cabeludos rebeldes e suas musas da contra cultura, que tinham acabado de realizar o festival de Woodstock nos EUA e, em vista do fenômeno que foi aquele encontro de paz e amor, achavam que o ídolo mais articulado do quarteto de Liverpool estava literalmente gagá e ultrapassado.   

Em seguida, os Estados Unidos recrudesceram a guerra contra os Vietcongues, vários golpes de estado seguiram-se ao da ditadura brasileira, acabando com a democracia em importantes partes do mundo, inclusive em países clássicos como a Grécia, nossa mãe da democracia; assim como em terras latinos-americanas como  Argentina, Chile, Peru, Bolívia e Uruguai; em continentes como Ásia, África e Oriente.  Num intervalo de tres meses, morreram de overdose os ídolos da juventude revolucionária, Jimmy Hendrix e Janis Joplin. Pronto! O sonho tinha mesmo acabado e ainda tínhamos que ouvir as brincadeiras sem graça dos nossos obtusos adversários conservadores, "se o sonho acabou, então vamos comer bolos", gozavam tais tipos ignorantes, que só estavam interessados em nos desmoralizar, afim de se aproveitarem da liberdade sexual que nós havíamos arduamente conquistado, lutando nos campos da batalha moral contra o status quo então estabelecido. 

Quando chegaram os tempos de chumbo, precisávamos de um colo amigo, de alguém que cantasse suavemente aos nossos ouvidos, que nos embalasse na travessia do pesadelo. Muitos artistas se prontificaram a esse papel. Um deles foi Neil Young, um caipira que veio do Canadá para tocar guitarra na Califórnia. Inicialmente entrou na lendária banda The Buffalo Springfield, mas, acabou fazendo outra carreira paralela, cantando suas doces canções que falavam de amor simples e de solidariedade, da sua busca por um coração de ouro, que propositalmente confundia com a expressão "heart of gold", filão de ouro, o ideal dos velhos colonos que iam ao velho oeste em busca de fortuna fácil. Esta canção foi o maior sucesso country na primeira metade da década de 1970. E olhe que ela não tem qualquer apelo comercial. É apenas o sonho de um rapaz norte americano, sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior, um Belchior canadense, para ficar mais claro, ora bolas...!!! Ele ganhava seu pouco dinheiro cantando improvisadamente em bares e acampamentos hippies, ao longo da costa do Pacífico norte americano.

Depois, quando entraram os anos noventa, fundou o estilo "grunge", sofisticando o velho rock and roll. Antes de meter uma bala na cabeça, Kurt Kobain, o líder da banda Nirvana, deixou um bilhete com os versos do refrão da canção onde Neil lançava o novo estilo: "Hey Hey, Hi Hi / Rock and Roll wil never die --- Hi, Hi, Hey, Hey / Rock and Roll is still the same". Para a terefa de reinventar o Rock, Neil Young foi ao submundo de Los Angeles buscar dois mexicanos perdidos nas drogas. Juntou a eles dois canadenses bem comportados, os internou a todos numa casa num costão do Pacífico e ficou meses experimentando o novo estilo. Não sei se usavam drogas nesse confinamento, mas, criaram obras primas.  Já aclamados pela crítica, a banda Crazy Horse produziu um clipe dirigido por ninguém menos que o cineasta Jim Jarmush, o grande revolucionário do cinema alternativo norte americano. 

Hoje setentão, Neil Young baixou um pouco a bola, depois que passou por uma cirurgia para remover um tumor alojado junto ao cérebro. Mas, continua fazendo chover. Seu encontro anual com os amigos Crosby, Stills e Nash, é sempre um acontecimento nacional na América do Norte, especialmente por que celebra 40 anos de militância anti guerra e pelo desenvolvimento social, batalhas nas quais os quatro amigos sempre estiveram envolvidos. 

Além do envolvimento nos movimentos pacifistas, ele sempre comparece a homenagens que lhe são prestadas pelo mundo afora (menos no Brasil, evidentemente, por que aqui tudo chega com pelo menos dez anos de atraso), como nesta ocasião em que foi atuar num festival de verão na Inglaterra, ao lado de  "sir" McCartney e alguns remanescentes de bandas famosas, como o Pink Froyd, ocasião em que cantou um clássico de Lennon. Precisa de muita coragem para tal. Mas, ele não se saiu mal ...




quinta-feira, 18 de outubro de 2012

CANTANDO POR CONTA PRÓPRIA

Igreja de São Benedito, da Arquidiocese de Floripa, 
apóia o Coro Lírico Catarinense cedendo o espaço para os ensaios, 
que antes se realizavam em espaço público, o Centro Integrado de Cultura.  

O Brasil já foi um país bem mais musical.  Não que tenha deixado de sê-lo, afinal, agora nós temos um verdadeiro mercado interno, a tal classe "C", consumidora voraz que tudo compra e a tudo quer ter acesso. Nada mais natural que tenhamos uma categoria artística muito mais rica que as anteriores, tanto financeira quanto qualitativamente, graças ao capital investidor e às novas tecnologias de gravação e distribuição. Até mesmo a música caipira, antes tão discriminada, hoje vende milhões de discos, excursionando de avião próprio, com suas bandas próprias, dezenas de técnicos e músicos. Em seu tempo, os "Tonicos e Tinocos" de antigamente viajavam de ônibus e tocavam em auditórios de rádios. 

No campo da música artística de alto nível, temos gênios como Arrigo Barnabé, Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti e tantos outros desconhecidos do grande público, que vivem de sua própria música. E não consta que estejam passando dificuldades, ao contrário de seus pares do passado, que morriam de fome e das doenças da miséria. Músicos eruditos também estão em boa fase, como o demonstra nosso querido Arthur Moreira Lima, pianista que mora em pleno Costão do Santinho e frequenta os melhores points de Floripa e do Brasil, como bem merece este grande personagem de nossa música, que alguns dizem maldosamente também representar a linha etilizada, além do elitizado, papéis que, aliás, ele desempenha muito bem.

Quanto a essa questão mercadológica, o Brasil vai muito bem. Quando digo que o país já foi bem mais musical, lembro-me de Villa-Lobos e seu livro didático "Canto Orfeônico", que orientava a disciplina musical ensinada nas escolas primárias e secundárias do país. Lembro-me de nosso compatriota maestro Edino Krueger, de Brusque,  como então secretário do MEC, espalhando corais e partituras pelo país afora. Eu mesmo tive maravilhosos professores de música, matéria obrigatória nos  primeiros anos escolares. Enfim, dos anos sessenta para trás a música era realmente popular, e não apenas um fenômeno de marqueting. Toda escola, sindicato, clube, empresa, até famílias, tinham seu coral. 

Então, veio a “redentora” com seus militares, que só gostavam de marchas. Não as de carnaval, maravilhosas, mas aquelas tocadas nos quartéis. Daí que resolveram trocar o Canto Orfeônico por outra disciplina, mais de acordo com os novos tempos: “Educação Moral e Cívica”. Três falácias numa só, pois aquilo nunca foi "educação", de "civismo" não tinha nada e nossa governamental ética "moral" ficou cada dia mais na lama, digo, no chumbo. Foi uma péssima troca.

Depois dos militares, Fernando Collor se encarregou de jogar a pá de cal no caixão da cultura popular musical do país. 

Hoje, governos de todos os naipes adoram reformar e construir teatros. Minha ingenuidade não me permite perscrutar as razões por que o fazem, uma vez que tais palcos vivem fechados.  Vendo que era necessário ocupá-los minimamente, inventaram complicadas leis de incentivo à cultura, que são espertamente apropriadas por políticos e grupos de empresários, especializados não em música, mas, em negócios. Ao invés de incentivarem grupos artísticos locais, trazem artistas prontos da televisão nacional e faturam duplamente: o dinheiro do governo e dos bolsos das plateias imbecilizadas pela telinha na novela das nove.  Os grupos locais que se julguem com algum talento, e queiram se expressar ao público apreciador de arte, que tirem a grana dos próprios bolsos, ora bolas!


Foi o que fizeram o Coro Lírico Catarinense e a Orquestra Piu Mosso. 




O Coro Lírico Catarinense e a Orquestra Piu Mosso se apresentaram no Teatro Álvaro de Carvalho.