sábado, 4 de fevereiro de 2012

Histórias que não se contam nas escolas.


Peregrinas norte americanas descansando na Porta Santa, em Compostela.
Ali se conta a parte boa da história do cristianismo ocidental. 



Algum pesquisador do movimento negro se interessou em saber por que os escravos negros argentinos desapareceram da face da terra? Eles eram 75% da população de Buenos Aires em 1750. E que fim levaram os escravos negros, que os maiorais da ordem dos Jesuitas, de Alta Gracia,  Córdoba,  adquiriam dos tropeiros gaúchos, em troca de mulas?  Mas, "que existiram, existiram", como as bruxas nas quais não acreditamos. Escrever história chapa branca é fácil, minha filha.  Duro é ser telespectador da história real, casos que estão arquivados apenas nos subterrâneos do inconsciente coletivo humano, acessáveis apenas através de muita andança e vivência no meio do povo. 

Seja como for, eu não tenho compromisso com nenhuma ideologia ou nacionalidade, por que nasci numa terra bruta e selvagem, para a qual nenhum governo dava suporte ou cuidados, entregues que haviam sido a uma companhia inglesa, que a repassou à família Vidigal quando estourou a grande guerra. Minha mátria natal está situada a poucos quilômetros de Guaira, o ponto mágico do imaginário "país guarani",  onde ficavam as famosas Sete Quedas, sacrificadas por causa da represa de Itaipú. Os militares também não nos perguntaram se era do nosso interesse construir um lago com 100 quilômetros de extensão. Alguém já foi à mina de prata de Potosi, no altiplano boliviano? Lá repousam fantasmas muito interessantes... Por isso o título desta crônica não poderia ser outro: "Histórias que não se contam nas escolas". A história oficial é sempre escrita pelos vencedores, usando água e açúcar como tinta. O grande intelectual negro brasileiro, Milton Santos, dizia que a história real da humanidade foi e continua sendo escrita com sangue.

Muito tempo atrás fui a um churrasco dos parentes de uma amiga no interior do Paraguai e percebi, no meio da festa, a presença de um senhor negro, de cabelos completamente brancos a revelar sua avançada idade. Ele falava apenas Guarani e sequer articulava rudimentos de espanhol ou português. Pesquisa daqui, pergunta dali, descobri que se tratava de um descendente de escravo brasileiro que desertou durante a guerra. Entre morrer de febre amarela nos acampamentos militares ou no balaço do fuzil paraguaio, muitos negros fizeram a opção de enfrentar a mata e acabaram se misturando à população indígena, que não questionava a cor de suas peles nem suas origens. A história oficial não conta os desertores, a não ser como traidores de uma causa que não lhes pertencia. Estão aí assuntos que a nossa antropologia nunca investigou, uma fonte de dissertações e teses, para os corajosos que queiram inovar um pouco e sair dos temas já tão batidos.


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