sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

A influência chilena no clube da esquina


As montanhas de Minas Gerais não são nevadas como as chilenas. Ao contrário, elas são cobertas de vegetação verde tropical e talvez por isso mesmo despertam atenção de uma parte bem informada do público daquele país, especialmente da parte seca, coberta de rochas e areias no deserto de Atacama. Certa ocasião, viajando pelo interior do deserto, várias pessoas me disseram "haa, como eu gostaria de conhecer Minas Gerais". Isso soou totalmente estranho aos meus ouvidos, pois, no resto da América Latina todos querem conhecer o Rio de Janeiro e suas mulatas, notadamente o reprimido público masculino, obsecado pelo exotismo erótico. Muitos anos atrás, um grupo musical jovem foi atraído para o Brasil, onde permaneceram por muitos anos. Eram da cidade de Caldera, uma pequena vila de pescadores localizada à meia distância entre La Serena e Arica, que são os extremos sul e norte dos 1500 kilômetros de deserto, apenas na parte chilena, por que na verdade o deserto continua Peru adentro, só que com outro nome. Na cidade natal do Grupo Agua só chove uma vez a cada dez anos e muitas casas dispensam o telhado.



Coincidiu que Belo Horizonte passava por um importante momento de transição cultural, deixando de ser a cidade provinciana que era, apesar de construída para ser a capital de Minas, e tornando-se contemporânea da arte musical mais moderna da época, aquela feita por artistas que formaram o movimento Clube da Esquina, reunindo músicos, cantores e poetas em torno do seu idealizador, o entao já famoso Milton Nascimento, que se enamorou do som produzido pelo grupo Agua em uma apresentação em São Paulo. Imediatamente os contratou para participarem da gravação de seu álbum de 1976,  "Geraes", que vendeu mais de um milhão de cópias, apesar de ser complexo e diferente de tudo o que rolava nas rádios e TVs do país. A música chilena era algo completamente desconhecido no país, quando Elis Regina incluiu em seu álbum de 1975 a canção Gracias a la Vida, da chilena Violeta Parra. Foi o mote para Milton pesquisar mais fundo e descobrir uma incrível canção falando de negros, coisa rara no Chile. A partir de sua parceria com os chilenos do Agua, Milton se interessou mais ainda pela música latino americana, vindo a gravar com vários compositores e cantores da região, desde Cuba até a Argentina, ajudando na divulgação desses valores artísticos praticamente ignorados no Brasil da ditadura militar. Então, no disco Geraes ele mostrou a um Brasil perplexo mais uma canção de Violeta.









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