sábado, 11 de fevereiro de 2012

Velhos campos de algodão

Pode parecer uma roda de samba no Rio de Janeiro. Mas, é uma "roda de blues" no Mississipi.

Pouca gente sabe que o Rock and Roll começou como música caipira dos trabalhadores do campo, feita por negros nos Estados Unidos. A história veio a partir dos hinos cristãos, principalmente os da Igreja Batista, que era majoritariamente a religião dos fazendeiros brancos do sul dos Estados Unidos. Se estivessem aqui no Brasil, submetidos a uma cultura menos severa e purista do que a dos anglicanos, provavelmente os escravos da América do Norte também desenvolveriam sua vertente cultural fincada em raízes africanas, como lhes foi permitido nas colônias dominadas por Espanha e Portugal, tais como Cuba e Brasil, entre outras. Mas, naquelas paragens sob o domínio da arrogante Inglaterra, os escravos, além de serem considerados apenas e tão somente ferramentas de trabalho, não tinham direito a qualquer tipo de vida social ou gratificação de qualquer ordem. Parece que, infelizmente, precisavam serem alimentados. Pior que isso, davam prejuízo ao fazendeiro por que morriam de tristeza, ao serem impedidos de expressar de alguma forma a intensa religiosidade que trouxeram de suas tribos africanas. Diante isso, os colonizadores WASP (brancos, anglo saxões e protestantes) perceberam que estavam perdendo dinheiro com a morte prematura de seus escravos. Diante dessa ameaça ao sucesso da colônia, os líderes religiosos e políticos confabularam entre si e propuseram uma saída cultural ao problema: aos escravos seria dada permissão de participarem dos cultos religiosos dos brancos. Todas as demais manifestações religiosas ou artísticas continuaram proibidas, mas, os escravos podiam ficar lá no fundo das igrejas. Poderiam até cantar os hinos cristãos. 



Com o tempo os hinos foram se modificando e ganhando contornos mais vibrantes, devido a participação dos negros, que cantavam como se fosse a última coisa que fariam na vida. Ou seja, cantavam com a alma. Soul music.  Os pastores e líderes religiosos gostaram muito dessa nova forma de expressão perante os céus, tanto que começaram a incentivar a participação dos escravos nos coros das igrejas de brancos, mesmo a contragosto de alguns fazendeiros. Com o lento passar das décadas ao longo de dois séculos,  os negros foram conseguindo mais progresso, tais como produzir cantos próprios para serem cantados durante os trabalhos na lavoura. À essas canções, os brancos começaram a chamar "spirituals", para os diferenciar dos hinos compostos por brancos. 

Então veio a guerra civil (1860) e muitos escravos fugiram para se juntarem às forças do norte, que lutavam contra o exército dos fazendeiros do sul. Um grupo desses negros combatia na Carolina do Sul, onde compuseram uma canção na qual expressavam sua esperança de que terminariam a guerra vivos, graças ao Arcanjo Miguel, que os livraria do infortúnio da morte no campo de batalha. Para isso, usaram como metáfora a travessia do Rio Jordão, onde o rio representa a morte. Hoje esta canção é considerada patrimônio cultural dos Estados Unidos, vejam só como o mundo dá voltas, um dos maiores clássicos da música gospel. 


Com a libertação, os negros se espalharam pela América, mas continuavam buscando inspiração nos velhos tempos, quando a mama ainda balançava o berço da criança, dentro de uma velha cabana perdida no meio das plantações de algodão...



Eu sei, ninguém entendeu nada, pois o sotaque caipira é fogo. Vamos com mais calma. 

Hoje, o som e o público é outro. Mas, continua sendo música de caipiras, com a diferença que alguns  caipiras embranqueceram e enriqueceram. Outros, de estranhos olhos fechados, apareceram no outro lado do mundo ....



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