terça-feira, 18 de junho de 2013

Ópera






Houve um tempo que não existiam novelas na televisão. Aliás, não existia nem sinal de televisão. Não existia nem energia elétrica. Na falta de atrações eletrônicas, a classe privilegiada ia ao teatro. Grande parte desses privilegiados  preferiam assistir uma encenação narrando coisas divertidas ou dramáticas, que alegrassem a vida e trouxessem alguma emoção para o marasmo rotineiro de uma vida sem atrações, como a que se vivia naquele tempo antigo. Era o tempo do teatro musical. Na falta de amplificadores, os espetáculos musicais exigiam cantores e cantoras cujas vozes tivessem a capacidade de se fazerem ouvir por cima das orquestras. Na verdade, esta sempre foi a característica principal dos espetáculos teatrais. A necessidade de se fazer ouvir à distância, no ambiente amplo de uma sala de espetáculos. No caso do canto, sobrepor-se ao som dos instrumentos musicais era um grande desafio, pois nenhum músico gostava de baixar o volume do seu instrumento, para permitir aos cantores que brilhassem sozinhos, ao contrário, se ele pudesse atrapalhar o desempenho do canto, o fazia com gosto e satisfação. Sempre houve essa competição entre orquestra e canto, apesar dos esforços dos condutores, regentes e maestros, interessados na harmonia geral dos espetáculos.   

A ópera é o estilo por excelência, onde a orquestra brilha com todo seu virtuosismo e, ainda assim, o canto é a principal atração, numa representação dramática ou cômica, nas quais a música e a poesia se completam. Por volta de 1600 este estilo começou a se popularizar na cidade de Veneza, com o compositor Claudio Monteverdi, o primeiro a montar este tipo de espetáculo. Suas produções tinham como tema os relatos da antiguidade, as histórias de reis e batalhas do oriente, épicos do período romano e, principalmente, os mitos gregos. 

A ópera se difunde rapidamente pelas cidades italianas, e, com a construção do Teatro São Cassiano, em Veneza, em 1637, os enredos passam a ser mais realistas e cômicos, afim de atender as demandas de um público mais amplo e menos culto, enquanto a competência vocal vai cada vez assumindo mais importância, pelo simples fato de que as pessoas iam aos espetáculos para se emocionarem com as histórias contadas, e menos por conta do virtuosismo dos instrumentistas.

Apesar da relativa popularização da ópera veneziana, foi a de Nápoles que conquistou o público europeu, afastando-se cada vez mais dos dramas inspirados na antiguidade. Os napolitanos concentraram-se na representação de estados psicológicos e desenvolveram histórias onde os solistas cantores representavam o centro do espetáculo, especializando os naipes de sopranos e tenores, que atuavam como protagonistas principais, ajudados por personagens coadjuvantes representando papéis secundários, porém muito importantes para o conjunto harmônico, com suas vozes diferentes, as contraltos e os baixos. Além desses atores, o coro e a orquestra completavam a magia necessária para trazer ao público paixão e emoção. 

A partir de 1850, a ópera vai ao ponto máximo de popularidade. Até o início dos anos 1900, surgiram várias obras importantes nas principais línguas europeias. No entanto, o italiano sempre foi a marca principal da ópera. Mesmo compositores espanhóis ou alemães, focavam suas obras para a língua italiana. Logo no surgimento do registro musical gravado, as primeiras celebridades da nova mídia foram exatamente cantores de ópera, como Enrico Caruso, que dizem ter sido o maior de todos.  

Entre as óperas mais famosas, destacam-se:
  • Carmem, de Georges Bizet.
  • Der Ring des Nibelungen, Der Fliegende Hollânder, Tannhäuser, Lohengrin e Parsifal, de Richard Wagner.
  • Manon Lescaut, La Bohéme, Turandot e Tosca, de Giuseppe Puccini.
  • Don Giovanni, Le Nozze di Figaro e Die Zauberflöte, de Wolfgang Amadeus Mozart.
  • Lucia di Lammermoor, Don Pasquale e L’Elisir d’Amore, de Gaetano Donizetti.
  • O Barbeiro de Sevilha, Guilherme Tell e La Gazza Ladra, de Gioacchino Rossini.
  • Cavalleria Rusticana, de Pietro Mascagni.
  • I Pagliacci, de Ruggero Leoncavallo.
  • Der Freischütz, de Carl Maria von Weber
  • La Giocconda, de Amilcare Ponchielli.
No entanto, será com Giuseppe Verdi que a ópera atingirá seu posto de glória dentro do universo da música,  tanto erudita quanto popular. Entre suas obras principais estão sucessos que permanecem em cartaz até os tempos atuais, com grande sucesso de público e crítica musical. Óperas como Nabucco, Il Trovatore,  Rigoletto, Um Ballo in Maschera, Don Carlos, Aída, Otelo e Falstaff, ainda correm o mundo. 

Talvez a mais famosa ópera de todos os tempos está sendo encenada nestes dias em Florianópolis, dentro de um projeto da UDESC, a universidade pública estadual de Santa Catarina. Em comemoração aos 200 anos do nascimento de Verdi, os acadêmicos de artes da UDESC encenam "La Traviata". As apresentações são gratuítas, realizadas dentro de um dos mais belos edifícios do Brasil, o Palácio Cruz e Souza, que antes foi sede do governo estadual e hoje é um museu. 

Não há como deixar de registrar este valioso resgate da música operística, numa cidade pouco acostumada a essa importante faceta artística do mundo moderno. Parabéns alunos e mestres dos cursos de música e artes cênicas da UDESC. Infelizmente ainda não foram postadas imagens do espetáculo. Mas, que vale a pena vale, ora, se vale! Custei a conseguir meu ingresso, por que só os distribuem para setenta sortudos por espetáculo. 







2 comentários:

  1. O canto reverbera pelo ambiente e provoca arrepios no corpo. Cada espectador se une à magia da interpretação, pela força ou pela suavidade das vozes, que às vezes trazem a imagem sensorial de arrebatamento celestial. Parabéns tanto pela crônica quanto pelas informações, pelo trabalho de divulgação cultural.

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  2. A vida escreve sua história nos degraus do tempo.O que é bonito rompe a barreira do tempo e espaço...faz até os picos mais altos de Macho Picho sentir sua vibração.Linda crônica...parabens!!!

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