sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Homens de negócio





--- “Presidente, correm boatos de que eu serei seu ministro e a imprensa está perguntando se é verdade. O que eu respondo, doutor?"
---  "Diga que você ficou muito honrado com o convite, mas que não vai poder aceitar o cargo, em função de seus compromissos pessoais."

Bons tempos aqueles em que a esperteza dos políticos rendiam boas piadas ingênuas e inofensivas, como essa do Tancredo Neves respondendo a pressão de um empresário de Minas Gerais.  Claro que roubalheiras sempre houve e sempre haverá, como relata a não menos lúdica resposta atribuída a Delfin Neto: “Ministro, está aí aquela comissão dos empresários do comércio”.  “Manda depositar na Suiça”, teria respondido sua excelência, que, encrencado com o general Geisel, foi mandado para a França, de onde voltou com o rótulo de “Embaixador  dez por cento”, atribuído pelos seus próprios colegas diplomatas.




Acontece que ao longo do tempo os negócios envolvendo a rés-pública foram se degenerando, até se transformar na casa dos horrores que hoje temos diante de nós. A corrupção mais descarada e vergonhosa impera em todos os setores, como podemos constatar até na obtenção de uma simples linha de internet banda larga, um negócio de cem reais ou até menos, como fui obrigado a ouvir de um ténico da OI, ao fazer-lhe o pedido para facilitar a instalação na minha casa: "Estamos cobrando 500 por fora". Imaginem, então, quando envolve bilhões de dólares.  Para constatarmos a profundidade do mal que nos assola,  basta reproduzir o que a própria polícia federal e os tribunais de contas colocam de público como resultado de suas investigações, envolvendo os tres poderes e toda a estrutura social, de cabo a rabo e de alto a baixo. Ainda assim, os comprovadamente corruptos apelam para o poder político e acaba o delegado competente  sendo mandado para a fronteira da Bolivia ou para o Amapá, ou até mesmo para onde vai cair o raio que nos parta em pedaços indignados de vergonha e medo.   

“ Presidente, o PC Farias tá liberando grana demais ”, reclamava a ministra Zélia, segundo informam as colunas de bastidores do poder na época, quando o governo Collor confiscou as contas bancárias e passou a liberar os recursos caso a caso. “Vai despachando, vai despachando”, respondia o presidente que, na verdade, chefiava uma quadrilha recém instalada no poder, com o apoio explícito da burguesia brasileira, que sempre apoiou o governo, qualquer governo, até para não deixá-lo realizar mudanças que comprometessem seus eternos privilégios... Escândalos e negociatas nunca faltaram, como o da compra da reeleição pelo FHC, cujo caixa de campanha era o ministro Serjão Motta, que dizia para quem quisesse ouvir: “Deputado do baixo clero eu compro por duzentos mil, não importa se o sujeito é de Rondônia ou do Rio de Janeiro.”    Para os quadros éticos do PSDB, que reclamavam postura pelo menos um pouco mais austera,  Serjão respondia insolente: “Não estou aqui para fazer masturbação mental”. Era sua forma indelicada de dizer que os fins justificam os meios.  No mesmo estilo grosseria, José Dirceu diria mais tarde “Comprei o Jornal Nacional por um preço que considero muito menor do que eu pensava ter que pagar!”



Bem sabemos que o ser humano pode errar, principalmente quando tem poder de decisão. No entanto, o primeiro e fundamental passo para mudar o rumo é a humildade de aceitar e assumir que está equivocado. Coisa que esses senhores que mandam no mundo público jamais fizeram. Tom Zé, que não tem poder nenhum a não ser a credibilidade de sua história pessoal, caiu no conto dos vigarios$$$ e fez um comercial enaltecendo a Copa do Mundo no Brasil. Foi patrocinado pela Coca Cola, a sócia da FIFA e do governo brasileiro. Seu público chiou e ele reconheceu que isso não combina com ele. Pediu desculpas e devolveu o dinheiro. 




De todas as reestruturações e reengenharias que acompanhei na vida pública, nenhuma foi mais boçal e decepcionante que a ocupação que o PT fez do governo e da vida política brasileira.  Eu confesso que não tenho qualquer prazer em escrever essas coisas. Pior ainda, sinto-me um bobalhão quando recebo críticas pelo que escrevo, como se fosse eu o culpado pelas revelações contidas nas cartas do tarô das evidências escancaradas. Quem manda colocar o dedo na ferida? Melhor alienar-me à vidinha do Rio Tavares, construir minha Chácara Mansidão e nela viver minha vida mansa,  esbaldar-me em “festa, trabalho e pão”, conforme o ideal do Gonzaguinha, Caetano, Gil, Vinícius, Arrigo, Itamar Assunção, Nei Lisboa e toda a turma boa que faz música e questiona, sem perder a fervura jamais ...  Meditarei com eles nos amanheceres, curtirei delícias existenciais e não chorarei mais qualquer lágrima sobre whisky derramado.  

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