domingo, 13 de julho de 2014

Minho, capital Braga



Os jardins de Braga são como a província do Minho: doces e austeros.


A história de Portugal se perde nas brumas dos tempos pré medievais, quando partes de seu território foi ocupado por vários povos antigos, entre os quais os fenícios, depois os cartagineses. Tres séculos antes de Cristo a região entre os rios Douro e Minho estava ocupada pelos celtas, que nela se estabeleceram e se misturaram com os povos bárbaros nativos desde tempos imemoriais. Foi quando deu-se a invasão romana, que a ocupou por aproximadamente oito séculos, deixando impregnadas ali sua herança na cultura, nos costumes, na religião e na língua. Com o declínio do império romano, partes de Portugal foram ocupadas pelos mouros a partir do ano 800, vindos de suas colônias no sul da Espanha. Nessa época, os territórios ao norte de Portugal já estavam convertidos ao cristianismo e seus habitantes, fugindo ao assédio muçulmano, abrigaram-se na Galícia, que então pertencia ao reinado de Leão, atual Espanha. 

Coube aos reis de Leão os combates iniciais para expulsão dos mouros. Ao longo dos anos 800 e 900, a região foi palco de inúmeras batalhas, não apenas entre árabes e cristãos, mas também entre os próprios cristãos, pela disputa do território, num entra e sai, conquistas e retiradas que marcaram profundamente o território, ora anexando-o à Galícia, ora estabelecendo protetorados autônomos, comandados pelos nobres espanhóis que estivessem na sua posse transitória. Finalmente, em 1093 foi estabelecido o Condado de Portugal, como presente do rei de Leão à sua filha Tereza de Leão pelo seu casamento com Don Henrique de Borgonha, nobre que havia se destacado na luta contra os mouros. Agora Conde, Don Henrique passou a governar de modo semi autônomo o Condado Portucalense, que ia de Coimbra até a fronteira com a Galícia. 

Morto Don Henrique, seu filho Don Afonso Henriques se revoltou com a preferência que sua então regente e mãe, Dona Tereza, dava aos nobres galegos, em detrimento dos nascidos no Condado. Armou-se como "cavaleiro de armas", abandonou o castelo e passou a dedicar sua vida na luta contra os mouros, até que, em 1139, após uma importante vitória, Don Afonso Henriques foi aclamado Rei pelas suas tropas. Nascia, então, o Reino de Portugal, com capital em Coimbra. Em 1143, o Rei de Leão reconhecia a independência de Portugal e ajudou a organizar o exército, fornecendo soldados para a continuidade do combate aos Mouros, sob o comando de Don Afonso I. 

Em 1147, as tropas portuguesas conquistam Sintra e Lisboa, empurrando os muçulmanos na direção sul, de volta aos territórios da Andaluzia, de onde haviam saído tres séculos antes; e de onde seriam finalmente expulsos de volta à Africa ainda mais tres longos séculos depois. Este o extrato do resumo da epopéia moura em território lusitano. 


Mural na Estação São Bento, cidade do Porto, celebra as vitórias de Don Afonso contra os mouros
A consolidação definitiva das fronteiras do Reino de Portugal ocorreu por volta de 1250, tendo sido o primeiro país europeu a fazê-lo. A Espanha, por exemplo, só foi unificada na ponta da espada já no século XV pelos reis católicos de Castela e Aragão, Don Fernando e Dona Isabel. Mesmo assim, ainda hoje várias províncias reivindicam autonomia em relação ao poder central. 

O Portugal de hoje não está mais dividido administrativamente em províncias, mas ainda é cultural e socialmente muito importante a divisão tradicional que classifica as regiões de acordo com suas peculiaridades para a produção de vinhos, como nos mostra o mapa abaixo.


    
O Minho é por excelência a região dos Vinhos Verdes, assim denominados por que as uvas são colhidas semi verdes, antes de estarem totalmente maduras, para a fabricação dos vinhos que são feitos principalmente a partir da uva denominada Alvarinho. Com moderado teor alcoólico, e portanto menos calórico, o Vinho Verde é um vinho frutado, fácil de beber, ótimo como aperitivo ou em harmonização com refeições leves e equilibradas, principalmente saladas e peixes. Eu costumava pedi-lo em jarras de um litro nos restaurantes de Braga e Guimarães,  e não raramente saia da mesa com a sensação de que teria sido bom beber mais um pouco, rsrsrs.

A região demarcada dos vinhos verdes do Minho produz 90 milhões de litros ao ano, envolvendo 22 mil produtores, caracterizando propriedades familiares de pequeno porte. Para se ter uma idéia, as regiões demarcadas de vinhos de Bordeaux, na França, com a metade da quantidade de produtores gera um volume sete vezes superior, passando de 600 milhões de litros. Neste particular, infelizmente a produção de vinhos de qualidade no Brasil demonstra sua total imaturidade, pois a nossa produção de vinhos finos em todo o estado do Rio Grande do Sul, praticamente o único estado produtor,  não chega a 50 milhões de litros ao ano, com grande variação de produtividade que leva em alguns anos a quedas que chegam a 50% desse volume. O Verde é o segundo vinho mais consumido em Portugal. É também o segundo mais exportado, depois dos vinhos do Porto.  


O vinho verde mais consumido no Brasil é o Casal Garcia. Mas, há centenas de outras marcas de alta qualidade.

A gastronomia do Minho, assim como toda a alimentação portuguesa de modo geral, é extremamente saudável. Praticamente não há frituras, pois os pratos são cozidos ou assados, usando-se principalmente o azeite de oliva, ao invés de óleos e gorduras, como vemos no Brasil. Fora do alto verão, predomina o clima frio, o que nos leva automaticamente aos deliciosos caldos, especialidade da região. Turismo no Minho é isso: comer, beber, apreciar! Passear pelos campos ondulantes de vinhedos, entremeados por castelos e aldeias milenares, na grande Braga ou na pequena Monção, parando aqui e ali nas suas tabernas e restaurantes. 

Mais uma jarra, por favor, tin tin !!!