terça-feira, 17 de março de 2015

LUGARES IMPROVÁVEIS: Pirenópolis




O Estado de Goiás está dividido em duas regiões bem distintas: a baixa, onde ficam os rios Araguaia e Tocantins, e a alta, o Planalto Central da América do Sul, onde fica o distrito federal, Brasília, a capital do estado, Goiânia, e a cidade de Pirenópolis. Foi uma das últimas regiões do país a ser colonizada, apesar de que desde os meados do século XVI tenha sido objeto de aventureiros diversos. Foi aqui que o famoso bandeirante Anhanguera botou fogo numa cuia de cachaça, para impressionar os índios. Diante de sua ameaça de botar fogo nas águas dos rios, os índios literalmente entregaram o ouro ao esperto português. 

A partir de 1725, o filho do Anhanguera se estabeleceu na região.  Seu grupamento pioneiro era formado apenas de portugueses e pelos índios Caiapós que escravizava. O objetivo era explorar ouro nas pedras do Rio das Almas, mas, devido a enorme distância do litoral, era necessário fixar o homem à terra. Os portugueses, em sua maioria oriundos do norte de Portugal, região do Porto e Galícia, logo trataram de construir casas e igrejas, formando o arraial das Minas de Nossa Senhora do Rosário de Meia Ponte, a Pirenópolis de hoje. A Igreja Matriz, que vemos na foto abaixo, reformada depois de um grande incêndio na década de 1990,  foi construída por volta de 1728 a 1731 e é considerada a mais antiga de Goiás.



Igreja Matriz

O nome Pirenópolis lhe foi dado em 1890. Segundo conta a lenda, um grupo de imigrantes espanhóis da Catalunha via semelhança na serra que contorna a cidade,  com a cadeia de montanhas situada entre a Espanha e a França, chamada Pireneus. Tal semelhança é mera expressão  da  provável  saudade  dos  catalães  por  sua terra natal, afinal, as serras goianas não passam dos 1400 metros de altitude 
e são absolutamente ordinárias, 
do ponto de vista paisagístico



A linda cidade de hoje estava entregue às traças, até que a fundação de Brasília trouxe novo alento a esta região pouco fértil, apropriada para a criação de gado e exploração das pedras de quartzo disponíveis em grande quantidade na serra. A meu ver, o nome mais adequado à cidade seria "petrópolis", pois tudo aqui é feito de pedra. Mas, foram os hippies que deram contorno cultural definitivo, quando para aqui vieram no final dos anos setenta, fugindo das terríveis condições que o preconceito e a ditadura militar lhes impunham em outros lugares mais "adiantados" do país. Ainda hoje, a população conservadora nativa lhes tem uma certa rejeição. Ouvi várias pessoas se referindo a eles como simples "maconheiros", mas, sem dúvida a cidade ficou uma graça com suas pousadas coloridas, bares com seus requintes simples, mas, criativos, seu artesanato em cordas, palhas, metais e madeiras.   



Além do núcleo urbano, a região é repleta de cachoeiras, em locais paradisíacos para os quais você pode ir em passeios guiados nos fins de semana. Em dias normais, é obrigatório ter um carro à disposição. As várias agências de turismo sequer abrem suas portas. Os táxis pedem valores absurdos, na casa de centenas de reais para levá-lo a uma ou duas cachoeiras, desde que sejam perto uma da outra, situadas à 15 ou 20 quilômetros do centro. Hoje de manhã, visitei uma delas, chamada Cachoeira da Usina Velha.

O Guia Turístico informava que ficava a 3,5 km da cidade. Acreditei e deduzi que poderia ir à pé. Como todo desserviço de informações turísticas no país, a informação estava errada. Incluindo o trecho em estrada de chão, são 5 km no total. Portanto, caminhei 10 km com sol forte no lombo de 64 anos de idade. Convenhamos que não é má performance, mas, se soubesse a verdade, não teria ido à pé. Poderia ter contratado um táxi apenas para a viagem de ida, pagando pelo taxímetro, e voltado à pé, então teria caminhado apenas 5 km. Para abrilhantar o passeio, tive que pagar 20 reais a um camping onde fica a cachoeira, o preço de uma diária. Aqui também o esporte principal é a exploração do turista. No caminho pela estrada de chão, uma matilha de cães me atacou na porteira de uma fazenda. Armei-me de coragem e um porrete bem parrudo, mas passei, pois não iria voltar sem o cumprimento da missão. Para terminar, quando já estava de volta no centro da cidade, o tempo virou e caiu um toró, com raio e tudo. Sem problemas, pois já estava encharcado de suor, de modo que tive até uma boa desculpa para chegar todo molhado em meu hotel.   








   

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