terça-feira, 14 de abril de 2015

Pat Metheny, o gênio da guitarra


As gerações de guitarristas do passado sabiam que seus papéis nos concertos de jazz seriam sempre o de coadjuvantes. Nunca se supunha que um guitarrista pudesse ser o centro do espetáculo, a menos que o tema estivesse relacionado com o Blues ou Rock and Roll (no caso, seria mais adequada a palavra 'row'), onde brilhavam principalmente os guitarristas negros norte americanos. Na década de 1940, surgiu um sujeito branco, cujo nome artístico batizou um dos principais estilos do instrumento, Les Paul, famoso modelo de guitarra elétrica lançado pela marca Gibson, as preferidas dos astros do rock que viriam depois. Este Les Paul brilhou intensamente nos anos 40 e 50, vindo a falecer aos 94 anos, já no final do século XX. No entanto, seus principais sucessos estavam sempre associados a grandes nomes em outros instrumentos, como o trompetista Louis Armstrong ou cantores como Frank Sinatra. Deste modo, até Les Paul continuava sendo coadjuvante. Embora ele fosse efetivamente um gênio. 

Les Paul tocando num espetáculo solo, perto dos noventa anos de idade

A história dos guitarristas de jazz começou a mudar com um rapaz nascido em Kansas, 1954, chamado Pat Metheny. Quando ele completou quinze anos de idade era 1969 e rolava o Festival de Woodstock. Ninguém poderia permanecer impune diante do som que faziam Jimmy Hendrix e Janis Joplin. Um negão de Seatle e uma branca do interior do Texas davam a nota do que seria o novo som da juventude transviada, seguidores do deus chamado Blues. Neste ano Pat Metheny deu adeus à inocência e começou a conviver com os grandes músicos nas bandas de jazz-blues norte americanas, onde aprendeu tudo que um garoto que (NÃO) amava os Beatles e Rolling Stones poderia aprender. Segundo a crítica especializada, ele passou os dez primeiros anos de sua carreira reinventando o som do jazz para guitarristas de sua geração, até que em 1979 lança sua primeira obra prima, aquela que sem dúvida o deixará inscrito no mural da história do jazz.


Nova Chautauqua

A palavra de origem indígena "chautauqua" vem sendo utilizada há mais de quatro mil anos pelas tribos desse grupo linguístico, os Cherokees. Significa literalmente "peregrinação". Mas, não qualquer aventura em torno de uma viagem mística ou estudiosa. Trata-se de ir ao fundo de todas as coisas, com a coragem para ver o que se apresentar, sem pré conceitos, concepções ou visões de mundo já conhecidas. Seria a capacidade de admitir que “o verdadeiro veículo que podemos conduzir é  ‘nós mesmos’.”  Trata-se, portanto, de uma aventura filosófica. Há uma cidade e um lago com esse nome no oeste do estado de Nova Yorque, perto da fronteira com o Canadá, onde floresceu um movimento religioso há 150 anos. Era conhecido no meio do povo comum como "novos batistas", por que, embora baseados no cristianismo, mesclavam crenças e comportamentos inspirados em outras fontes, desde a tradição religiosa indígena até mitos pagãos. Não por acaso, um de seus principais líderes era um imigrante português criado na Inglaterra, origens de onde ele agregou à sua religiosidade muita influência celta. Esse sujeito organizava acampamentos de verão, destinados a educar a juventude e propiciar momentos de intensa reflexão para os participantes, entre encenações teatrais e musicais. Veja uma das frases desse sacerdote: “É perfeitamente natural considerar ignorantes os europeus ou índios que acreditam em fantasmas. O ponto de vista científico norte americano eliminou qualquer outro ponto de vista, de maneira que todos parecem primitivos. Portanto, se hoje alguém falar em fantasmas ou espíritos é tachado de ignorante ou até de maluco.", Imagine uma figura assim influenciando diretamente a formação filosófica de nosso artista, e já se tem uma ideia do tipo de gente sui generis que é Pat Metheny, rsrsrs. 




Pat Metheny tem uma longa relação com o Brasil, desde sua juventude mais precoce, quando já era fan da música popular brasileira, especialmente dos astros da bossa-nova, como Tom Jobin, e do movimento Clube da Esquina, onde chegou a fazer parcerias em shows com Milton Nascimento, Toninho Horta e Naná Vasconcelos. No final dos anos 80, chegou a morar no Brasil, onde aprendeu percussão com o mestre Marçal, um dos mais conceituados no gênero. Fixou-se basicamente no Rio de Janeiro, mas, empreendia aventuras musicais pela Bahia, Minas Gerais e nordeste. Chegou a visitar Maringá (PR), em visita à terra natal na então namorada, Sonia Braga. 

Agora sessentão, Pat continua no circuito mundial de jazz e, pelo jeito, não vai parar tão cedo. Uma hora está no Canadá, na outra semana já está na África, depois Japão ou Suécia, não para nunca. Mesmo tocando um gênero instrumental muito difícil para o grande público, que têm ouvidos acostumados ao som de fácil apreensão, bem comportado e popular. 

Seu público são aqueles que viajam mais longe ... e esses são imortais... 




Qualquer um que tenha passado a infância junto a uma 
estação de trens "maria fumaça", se emociona com este clip. 

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