quarta-feira, 22 de julho de 2015

POLÍTICA É O FIM! Apud Caetano Veloso


Em 1980, Caetano era o perfeito intérprete de tempos soturnos.

O termo tem origem no grego politiká, uma derivação de polis, que designa aquilo que é público. O significado é muito abrangente e está relacionado com o espaço público. Na tradição ocidental, a política é a ocupação do espaço público por interesses privados, organizados segundo orientações ideológicas e negociais, as quais constituem os partidos políticos.  

A melhor frase sobre política que já ouvi foi feita por Caetano Veloso: "Eu só queria que o prefeito desse um jeito na cidade da Bahia".


Brincadeira, na verdade Caetano está entre os melhores poetas da língua portuguesa, capaz de fazer brilhantes versos musicados, como esses: 




"Será que apenas os hermetismos pascoais 
e os tons, e os mil tons, seus sons e seus dons geniais,

nos salvam, nos salvarão dessas trevas, e nada mais?

Eu quero aproximar o meu cantar vagabundo
 daqueles que velam pela alegria do mundo
indo mais fundo, tins e bens e tais"




Meu tempo de militante político já passou, mas, lembro-me que fui fundador do PT.
Na verdade, já era "petista" desde muito antes, quando participei da luta estudantil pela retomada da democracia no país. Participei do lendário Congresso da Classe Trabalhadora em Praia Grande, SP, no ano de 1981. 

Rompi com o PT orgânico em 1982, quando eu achei que era mais importante apoiar a candidatura do peemedebista Jaison Barreto ao governo de Santa Catarina. Ao defender essa posição numa plenária, fui expulso da tribuna, sob vaias que me impediam de falar. A velha tática da esquerda totalitarista, aqui em Floripa dominada pela LIBELU (cuja secretária geral, que pregava a luta armada,  é atualmente secretária pessoal de Lula, aquela que anota os compromissos impublicáveis) e pelo MEP (valentes "revolucionários", atuais serviçais do palácio do planalto e outras instâncias, as famosas "boquinhas"). 
Naquela eleição de 1982, fui indicado delegado do PT junto a justiça eleitoral, que, pela primeira vez, usaria um computador para totalizar os votos. Questionei que a empresa contratada para o serviço era o SERPRO, estatal do governo federal da ditadura, que tinha interesse na vitória da antiga ARENA, então atual PDS, partido do candidato do governo, Esperidião Amim. A imprensa presente se agitou e veio me entrevistar, enquanto os desembargadores do TRE coçavam as cabeças. Mas, a encrenca não foi feita pelo SERPRO, cujos representantes vieram me convidar para um jantar, ao qual, evidentemente, eu recusei.
A grande fraude das eleições de 1982 foi cometida nas juntas de apuração locais. A coisa funcionava assim: vários voluntários constituiam uma turma de apuração, que contavam manualmente os votos e preenchiam um "boletim de urna". Esse Boletim era enviado para o Centro de Processamento de Dados, para ser totalizado. Neste preenchimento, algumas vezes eram alteradas as intenções dos eleitores. Quando saia dali, o que passava a valer era o Boletim, pois os votos eram enterrados numa sacola e nunca mais seriam abertos, a não ser que algum juiz autorizasse uma recontagem. Exatamente o que vai acontecer com os votos impressos agora aprovados pelo congresso nacional.
Pois bem, uma cópia desse Boletim era distribuída para a imprensa e para cada coligação participante do pleito. Nós montamos um CPD próprio na casa do presidente do PMDB, onde digitávamos a nossa cópia e acompanhávamos par e passo a apuração do SERPRO. Dali, recebíamos as notícias das fraudes no interior do estado, mas também na capital e grandes cidades. A Arena dominava tudo, afinal, os funcionários públicos, bancários e chefes de escritórios, que eram o típico público voluntário da apuração, até outro dia eram obrigatoriamente do partido da ditadura, mesmo que não concordassem com ela.
Mas, também acompanhávamos que a eleição não estava definida. Lá pelo terceiro dia da apuração, já perto do final, a diferença a favor de Amim contra Jaison era de pouco mais de 10 mil votos. Para o senado, Jorge Bornhausen estava apenas mil votos na frente de Pedro Ivo. Nossa turma trabalhava animada, em quatro turnos de 6 horas.
Então o professor do curso de sociologia da UFSC, do diretório estadual do PMDB e coordenador do nosso grupo de trabalho, veio com a notícia: "Pessoal, vamos desmontar tudo. A executiva do partido decidiu encerrar os trabalhos e assumir a derrota". Ficamos perplexos. "Como? Agora que estamos na reta final? Precisamos resistir e mostrar que há fiscalização, senão eles vão fraudar até o certificado de nascimento da mãe!". Não houve jeito. "Ordens são ordens", e desmontamos o CPD. Nem o dono da casa apareceu para dizer "muito obrigado". Foi um verdadeiro velório.

O Professor morreria de câncer, poucos anos depois. Na eleição seguinte, em 1986, o ex candidato a senador, Pedro Ivo, seria eleito governador sem concorrência. O PDS lançou um candidato de mentirinha, apesar de estar no poder. Pedro Ivo também morreria de câncer em pleno mandato. Jaison veio a aliar-se politicamente com o governador eleito na fraude. Mas, felizmente está vivo até hoje, apesar de gagá.  E Santa Catarina ficou na mesma, perdeu oito anos de sua história! Oito anos? Diz aí, Raimundão! Quantos anos você acha que perdemos?
Atualmente, não vejo qualquer perspectiva política para o Brasil. Não há oposição que conte. E os governos são bandos de criminosos organizados em quadrilhas, para expropriar o que resta de riqueza no país. Nunca votei no PT nem no PSDB. Aliás, votei poucas vezes. Nossa única esperança é o povo. O mesmo povo ignorante e despolitizado que temos, que é bem capaz de eleger de novo o Lula, para "salvar o país".  Minha confiança é no movimento da vida, que é capaz de fazer milagres!

Exilado em Londres, macho e saudoso poeta.

Aviadado em Salvador, beijando outros homens. 







domingo, 19 de julho de 2015

Portugal e a primeira favela.




A história de Portugal se perde nas brumas dos tempos pré medievais, quando partes de seu território foi ocupado por vários povos antigos, entre os quais os fenícios, depois os cartagineses. Tres séculos antes de Cristo a região entre os rios Douro e Minho estava ocupada pelos celtas, que nela se estabeleceram e se misturaram com os povos bárbaros nativos desde tempos imemoriais. Foi quando deu-se a invasão romana, que a ocupou por aproximadamente oito séculos, deixando impregnadas ali sua herança na cultura, nos costumes, na religião e na língua. Com o declínio do império romano, partes de Portugal foram ocupadas pelos mouros a partir do ano 800, vindos de suas colônias no sul da Espanha. Nessa época, os territórios ao norte de Portugal já estavam convertidos ao cristianismo e seus habitantes, fugindo ao assédio muçulmano, abrigaram-se na Galícia, que então pertencia ao reinado de Leão, atual Espanha. 



Coube aos reis de Leão os combates iniciais para expulsão dos mouros. Ao longo dos anos 800 e 900, a região foi palco de inúmeras batalhas, não apenas entre árabes e cristãos, mas também entre os próprios cristãos, pela disputa do território, num entra e sai, conquistas e retiradas que marcaram profundamente a região, ora anexando-a à Galícia, ora estabelecendo protetorados autônomos, comandados pelos nobres espanhóis que estivessem na sua posse transitória. 

Finalmente, em 1093 foi estabelecido o Condado de Portugal, como presente do rei de Leão à sua filha Tereza pelo seu casamento com Don Henrique de Borgonha, nobre que havia se destacado na luta contra os mouros. Agora Conde, Don Henrique passou a governar de modo semi autônomo o Condado Portucalense, que ia de Coimbra até a fronteira com a Galícia. 



Morto Don Henrique, seu filho Don Afonso Henriques se revoltou com a preferência que sua então regente e mãe, Dona Tereza, dava aos nobres galegos, em detrimento dos nascidos no Condado. Armou-se como "cavaleiro de armas", abandonou o castelo e passou a dedicar sua vida na luta contra os mouros, até que, em 1139, após uma importante vitória, Don Afonso Henriques foi aclamado Rei pelas suas tropas. Nascia, então, o Reino de Portugal, com capital em Coimbra. Em 1143, o Rei de Leão reconhecia a independência de Portugal e ajudou a organizar o exército, fornecendo soldados para a continuidade do combate aos Mouros, agora sob o comando de Don Afonso I. 

Em 1147, as tropas portuguesas conquistam Sintra e Lisboa, empurrando os muçulmanos na direção sul, de volta aos territórios da Andaluzia, de onde haviam saído tres séculos antes; e de onde seriam finalmente expulsos de volta à Africa ainda mais tres longos séculos depois.




Um evento importante na história de Portugal e da península ibérica veio a ser a transferência da capital para Lisboa. Isso deu-se no final do século XIV, em meio aos confrontos decorrentes da morte do rei Don Fernando, cujos herdeiros seriam espanhóis da linha dos nobres de Castela, contra os quais se revoltaram os negociantes de Lisboa, então já importante entreposto comercial àquela altura do ano 1380. Os ingleses, para variar, apoiaram as forças rebeldes que derrotaram os castelhanos, os quais, também para não romper a tradição, contavam com o apoio dos franceses. Finalmente, em 1385 um dos fidalgos vencedores do confronto militar é entronado como novo rei de Portugal, cujo primeiro ato foi transferir a capital de Coimbra para Lisboa.   

Em seguida, Portugal veio a ser uma grande potência, que substituiria com vantagens os reinos medievais da idade média em França, Itália, Alemanha e outras regiões da Europa. Foi o primeiro reino europeu a consolidar suas fronteiras, dentro de uma nação com língua e religião únicas. Estabeleceu-se como excelência em navegações de longa distância, a partir da escola de Sagres, referência mundial no assunto. Participou com Espanha das grandes descobertas de novos continentes, da travessia por mar para a Ásia, contornando o Cabo da Boa Esperança, extremo sul da África, desvendou a passagem para o Oceano Pacífico através do Estreito de Magalhães, ao sul da atual Argentina e Chile, etc. 

Com a vida ganha e mansa, o reino de Portugal ajudava o catolicismo na luta contra os mouros, pois, afinal, naqueles tempos o extinto império romano, que tinha elegido o cristianismo como padrão religioso, comandava o espetáculo ainda, através dos papas católicos, que nomeavam e destituíam reis, colocava um exército contra outro, formava alianças entre realezas, etc.



Logo após as grandes descobertas, foi entronizado um rei especial. Dizem que era um jovem muito culto e bonito, que morreu virgem e santo. Não tinha ambições especiais, mas, devido ao seu status nobre, foi obrigado a assumir o comando das tropas portuguesas, e, durante uma batalha no norte da África em 1578, o rei simplesmente sumiu. Seu corpo nunca foi achado. Tornou-se lenda. 

Com a morte de Don Sebastião, o reino de Portugal voltou às mãos espanholas, agora sob o controle do terrível Don Felipe II, cruel e vingativo, que simplesmente mandava matar  a todos que não professassem a religiosidade católica como ele imaginava ser a mais correta. Estabeleceu um tal reinado de terror, que levou a península ibérica de volta aos tempos tenebrosos da idade média. Em Madri, eram famosas as execuções de bruxas nas fogueiras armadas em pleno centro da cidade, tradição que se expandiu pelo reino até as principais cidades de Portugal,  e inclusive em alguns locais do nordeste brasileiro, especialmente contra muçulmanos e agentes religiosos do movimento reformista.





Em 1640, o Duque de Bragança declarou Portugal livre do império espanhol e iniciou uma nova dinastia. Por essa época, já no Brasil, o padre português Don Antonio Vieira escreveria uma série de poemas épicos, aos quais deu o nome de QUINTO IMPÉRIO, que seria, segundo sua visão artística e messiânica, a consolidação de Portugal como a quinta raça a comandar a humanidade, após os Assírios, Persas, Gregos e Romanos. Aqui, ele confundiria Civilização com Raça, mas, não estava de todo errado. Na verdade, a quinta raça estaria surgindo agora no Brasil, segundo alguns movimentos esotéricos bem posteriores ao Padre Vieira. 

Os descendentes dos Bragança estão até hoje consolidados como a família imperial brasileira. Muitos nobres dessa linhagem ainda vivem das propriedades imperiais estabelecidas na antiga capital Rio de Janeiro, e, principalmente em sua sede de verão, Petrópolis. 

O último episódio sebastianista brasileiro foi a Revolta de Canudos, onde Antonio Conselheiro amaldiçoava a recém proclamada república e dizia esperar a reencarnação de Don Sebastião, com a magnífica profecia de que "o sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão". Enquanto a profecia não se cumpre, o sebastianismo vai fazendo sua vingança: parte da população de Canudos que não pereceu sob as baionetas republicanas, foi levada prisioneira para o Rio de Janeiro. Ali, depois de "liberados", sem terem para onde ir, foram todos morar num morro no centro da cidade, a que os moradores deram o nome de Morro da Favela, em referência a um aglomerado então existente em Canudos, que tinha esse nome. Era apenas o começo da enorme vingança histórica, atávica e implacável.

Terrível. Como a história portuguesa!













quinta-feira, 9 de julho de 2015

A VERDADEIRA BATALHA



No Universo, tudo está em constante movimento. Nada permanece estático, pois todo o mundo  material  (ou mesmo imaterial)  busca cumprir sua missão cósmica. Aos minerais corresponde a função de resistir e aprofundar sua capacidade física frente ao meio ambiente. A missão dos vegetais é crescer, sempre  para o alto e na direção da luz. Os animais buscam sua evolução orgânica, que os adaptem às condições objetivas do meio onde vivem, incluindo o animal Homem. Ao ser humano compete EVOLUIR, da matéria para o espírito, da ignorância para o conhecimento, da personalidade fragmentada em direção à CONSCIÊNCIA. 

O caminho do crescimento do ser humano passa necessariamente por sua EDUCAÇÃO, não apenas no sentido da aquisição de conhecimentos e competências, mas também pelo processo de formação de uma personalidade harmônica, visando a perspectiva do INDIVÍDUO, ou seja, tornar-se o SER INDIVISÍVEL que se conhece a si próprio e se determina de maneira autônoma.

O INTERIOR DO SER HUMANO É SEU PRINCIPAL CAMPO DE BATALHA

Dizem os filósofos que o Ser Humano veio ao mundo para fazer um aprendizado, que o tornasse apto a responder tres perguntas fundamentais:

1) QUEM SOU?

2) DE ONDE VIM E PARA ONDE VOU?
3) ONDE ESTOU?

Nenhuma dessas perguntas tem resposta pronta. 
Na verdade, há várias respostas, todas insatisfatórias. As últimas hipóteses foram tentadas há mais de dois mil anos, através da civilização Grega e seu sub produto, o Império Romano. Tudo o que temos hoje no plano filosófico dos habitantes do planeta Terra, especialmente em sua vertente ocidental e moderna,  é produto do pensamento grego antigo. 



A visão grega do ser humano é compartilhada pela psicanálise moderna

De modo geral, o pensamento filosófico grego considera o Ser Humano a partir de tres focos bem determinados: 


  • Plano da matéria física (Soma) - o corpo físico humano, sem os componentes psíquicos. Significa apenas o conjunto de órgãos e funções biológicas. 
  • Plano dos pensamentos (Psique)  - Com todas as controvérsias ao longo dos séculos, a melhor definição atual para a palavra grega "alma" seria o termo inglês SELF, que significa "si-mesmo", abrangendo o território psicanalítico do ego-mente.  
  • Plano do sagrado (Nous) - Em termos gerais foi usado para distinguir os atributos da razão/saber, frente aos aspectos físicos e mentais dos demais níveis. Platão o definiu como o "divino e atemporal pensamento". Significa a interação direta e imediata com as emanações do componente metafísico dentro de cada ser humano, sem necessidade de linguagem ou premissas. No pensamento moderno, pode ser expresso como INTUIÇÃO. 

No entanto, os gregos estão longe de serem os donos da verdade.
Uma civilização mais antiga que a deles, a da Índia, propunha que o Ser Humano tenha sete dimensões, ao invés de tres. 


A constituição setenária do Homem está na filosofia indiana

Quatro níveis inferiores definiriam a Personalidade, a saber: corpo físico, corpo etérico, corpo astral e corpo mental inferior, que no quadro acima está assinalado como "emocional". Nesse quadro, especificamente no nível Mental Inferior e Astral, estaria o verdadeiro CAMPO DE BATALHA do Ser Humano. Em termos de comparação, seria o nível da Psique dos gregos, onde as influências emocionais e os pensamentos determinam a vida de uma pessoa. Portanto, todo o processo de EVOLUÇÃO depende do que acontece neste nível, com o objetivo de acessar um padrão superior, onde estaria a CONSCIÊNCIA DA INDIVIDUALIDADE. 

CRESCIMENTO PARA O NÍVEL DA CONSCIÊNCIA

O crescimento pessoal de um Ser Humano, de saber como é "por dentro", não tem nada a ver com o intelecto. Este é outro tipo de saber, lhe dará a resposta da questão básica ONDE ESTOU? e, apesar da aparente singeleza dessa simples questão situacional, a pergunta pode não ser respondida ao longo de toda uma vida. 





O processo de crescimento em direção ao nível da CONSCIÊNCIA ESPIRITUAL, o Nous grego ou a Tríade Atemporal da filosofia indiana, pode se dar por vários caminhos. Nenhum deles centrado na PERSONALIDADE, quer dizer, no emaranhado de pensamentos e questões temporárias que  se passa pela mente concreta. Ao contrário. Todas as linhas filosóficas desenvolvidas através dos milênios, em civilizações tão diferentes entre si como a Índia, a China, a Grécia, o Egito, etc,  nos apontam como caminho o DESAPEGO aos níveis inferiores da personalidade humana, ou seja, apontam para a necessidade da TRANSCEDÊNCIA, ou seja,  a desidentificação do Ser Humano com seus aspectos físicos-etéricos-astrais-mentais de baixo nível.  Isso significa que uma pessoa pode ver a si mesma de um ponto de observação além da sua personalidade.  Ela pode constatar que está pensando em algo do mundo objetivo e material, ou que está elaborando um plano para o futuro imediato, ou que está resolvendo algum problema financeiro e/ou doméstico, ou que não está sabendo muito bem como lidar com certa questão, mas, ao mesmo tempo se distanciar de tudo e dizer para si mesma: “ESTA PESSOA NÃO SOU EU”.  Quer dizer, em outras palavras um pouco mais duras, “Eu sou mais do que esse conjunto de irrelevâncias”. Isso significa que o caminho para se tornar INDIVÍDUO é a superação do EGO.

Quando examinamos isso em relação ao contexto social e histórico, temos que nos conscientizar também de que a civilização atual do ocidente, baseada nas crenças judaico-cristãs, está longe de ser o ponto máximo da história humana, ou, como dizem os yuppies e assemelhados, O TOP DA CONDIÇÃO HUMANA NA TERRA.  A formação do contexto religioso europeu, baseada nas igrejas cristãs, e sua extensão posterior às Américas, África e parte da Ásia, nasceu de uma necessidade do Império Romano de preservar-se frente a ameaça dos povos bárbaros, que então habitavam o interior do continente lá pelo ano 400 dc. Então, o imperador e a corte romana criaram uma religião estatal e obrigatória, com seus ritos, dogmas e procedimentos que, talvez, não tenham nada a ver com o cristianismo original, libertário e rebelde. Posteriormente, quando a Europa cristã mergulhava nas trevas da Idade Média, o centro do mundo, do ponto de vista científico e cultural, estava no Egito, que irradiava sua luz por todo o Oriente Médio e norte da África. Na verdade, chegou à Europa através das colônias muçulmanas dos mouros no sul da Espanha. A história nos mostra que as cidades-estados de Sevilla, Córdoba e Granada eram, na altura do ano 1000 dc,  sob domínio árabe, mais avançadas e civilizadas culturalmente que os reinos cristãos, em áreas como Medicina, Literatura, Matemática, Organização Social, etc.  Quando os cruzados cristãos decidiram que era hora de reconquistar Jerusalém, tomando-a do domínio muçulmano, que se instalou ali séculos após a diáspora judaica, esperavam encontrar por lá um povo atrasado e bárbaro. No entanto, o que encontraram foi algo muito diferente: uma cultura ultra sofisticada. Os intelectuais europeus que acompanhavam os cruzados constataram a existência de grandes bibliotecas, onde se podia acessar a produção dos filósofos gregos. Isso mesmo, Sócrates, Platão e Aristóteles em versão árabe. Apesar disso, a aventura cruzada resultou em enxurradas de sangue que corriam pelas ruas empedradas da cidade, conforme nos informa vários relatos da aventura, essa sim, bárbara.   Isso nos demonstra que o orgulho de uma civilização pode estar baseado em argumentos completamente deslocados da realidade ou do bom senso. Não faz muito tempo, a maior potência militar de todos os tempos, os Estados Unidos, perderam uma guerra para guerrilheiros analfabetos vietnamitas, que se comunicavam e se articulavam militarmente em túneis cavados sob os pés dos norte-americanos. Bombas de napalm e fuzileiros super armados de nada adiantaram. Tiveram que abandonar o país com o rabo entre as pernas, completamente derrotados do ponto de vista moral e militar. Não é por outra razão que hoje os Estados Unidos pensam duas vezes antes de invadirem um país. Preferem bombardeá-lo com seus aviões ultra sofisticados, mas, isso já é outra história. 

Voltemos ao nosso mundo do crescimento espiritual. Todas as tendências ou movimentos religiosos do mundo moderno estão baseados na expansão do seu "mercado". A antiga metodologia do aprendizado religioso, centrada na relação mestre-discípulo, foi substituída pela máxima expansão dos discípulos, através da replicação incessante da "mensagem", quer seja através das mídias eletrônicas, quer seja em classes de ordenamento massivo. 






Isso pode formar excelentes propagandistas e missionários. Mas, não é capaz de gerar SÁBIOS. O caminho da sabedoria é árduo e pesado. Exige tres etapas indispensáveis: 


  • O DESPERTAR, que corresponde a identificação pessoal de uma entre bilhões de pessoas da Humanidade, que se orienta pela APRENDIZAGEM, com o objetivo de sair da ignorância do mundo físico e caminhar através da ascensão ao mundo dos IDEALISTAS, aqueles que estão dispostos a correr os riscos do Caminho Espiritual. 
  • A TRANSFORMAÇÃO, que corresponde a progressos a serem conquistados pelo já agora Discípulo, que necessita de DISCIPLINA e RIGOR na caminhada para a sabedoria,  que o torne INDIVÍDUO. 
  • A TRANSMUTAÇÃO, que corresponde a mudança da essência de um Ser, alterando sua vibração, da mesma forma como os alquimistas da antiguidade se propunham a transformar cobre em ouro. Essa mudança fundamental coloca o Ser Humano no ambiente da Unidade Total com o Absoluto. É o caminho da Iluminação, ponto máximo da experiência do aprendizado humano, que corresponde a várias denominações, segundo cada linha filosófica ou religiosa: Satori do budismo japonês, Nirvana do budismo indiano, Beatitude dos cristãos, etc.     

Há várias técnicas para o processo da Transformação. Uma das principais é a Meditação, que, por sua vez, também está distribuída conforme as preferências da clientela. Uma das mais eficazes é a concentração da mente num canto sagrado, como este que segue, por exemplo. 







Se o meditador não tem paciência com as coisas do oriente, pode preferir um canto cristão ocidental. Que tal este?





terça-feira, 7 de julho de 2015

O Sonho da União Européia está virando Pesadelo?

Há 2500 anos, enquanto a Alemanha vivia na idade da pedra (!), a Grécia já era uma República de cidadãos.









"Na verdade, os maiores bens nos vem por meio da loucura, que é um dom divino" 
PLATÃO (427 AC - 347 AC)







Nunca uma frase de Platão foi tão bem apropriada para definir a relação de amor e ódio entre seu país, a Grécia, e o continente Europeu. Os gregos devem a bancos europeus e FMI a soma de 325 bilhões de dólares, pouco, se comparado com o trilhão de dólares que o Brasil deve aos bancos que financiam nossa gastança. A questão é que o PIB grego não chega a 250 bilhões de dólares, o que faz a dívida grega muito maior que a brasileira, em termos relativos. 


A Grécia sempre foi complicada e os europeus sabiam disso quando a admitiram no conclave europeu. O que os levou a encher as burras do governo grego com um dinheiro que já se sabia que não iria voltar? A justificativa oficial é que praticaram a solidariedade pan-européia. Conhecendo os banqueiros como nós conhecemos, é difícil acreditar nessa bem aventurada solidariedade. Provavelmente eles não tinham onde aplicar essa grana, por que o mundo ocidental atravessava grave crise econômica, os países da África e América Latina estavam culturalmente muito distante e apresentavam os mesmos riscos que a Grécia. Dúvida por dúvida, resolveram investir no próprio quintal.   

As origens da União Européia também não é um conto de fadas sobre a união de povos amigos. Terminada a segunda guerra mundial, Estados Unidos e União Soviética dividiram os países do continente europeu segundo suas visões ideológicas. A Inglaterra, que seria o terceiro aliado importante na derrocada do regime nazista, em 1945, ficou de fora do butim. Não por que quisesse desistir, mas, por que não tinha o mesmo cacife dos gigantes ao lado dos quais combateu. Fechou-se em seu anglicanismo religioso e geopolítico, chamado Reino Unido, passou a enfrentar os fantasmas de seu passado imperialista, e retrocedeu de forma notável na liderança econômica e tecnológica que detinha no contexto internacional, deixando o campo da Europa ocidental livre para as manobras norte americanas. 

Quando a Alemanha botou o nariz pra fora, no final dos anos sessenta, franceses e norte americanos acenderam a luz amarela, antevendo que ela poderia voltar a ser uma grande potência econômica e militar, o que diante mão causa alguns calafrios. Começaram então as articulações para fundar uma união estável entre os países europeus, visando exorcizar os demônios do passado e assegurar a paz duradoura, se possível eterna, principalmente entre França e Alemanha, as maiores potências do continente. 

E assim foi feito. Ao longo dos anos 70 e 80, houve o longo processo de preparação para a União Européia, aparando arestas entre os países, negociando a moeda única, estabelecendo planos estratégicos, etc, enquanto no plano global aconteciam dois fenômenos muito importantes:  A derrocada do império soviético e a construção da unidade alemã. Os dois processos culminaram praticamente ao mesmo tempo, de um lado com o esfacelamento do comunismo no leste da Europa, com o consequente isolamento da Rússia e a revolta de seus países satélites, tais como a Chechênia e a Ucrânia.  De outro lado, a Alemanha capitalista acelerava a incorporação de sua co-irmã comunista, num projeto que custou mais de 100 bilhões de dólares aos capitalistas, mas gerou um país dinâmico, recuperado das memórias trágicas e do atraso econômico, ainda visível hoje em dia, mas em franco processo de integração. 

A década de 1990 foi dedicada à consolidação dos países tradicionalmente europeus, mesmo tendo que arcar com as crises de Itália, Espanha e Portugal, que tiveram fantástico progresso econômico nos primeiros anos da União.

Quando entrou o ano 2000, os europeus se dedicaram a seduzir outros vizinhos no norte do continente e em lugares duvidosamente "europeus".    



Foi  assim que no ano de 2001 a Grécia foi aceita na União Européia e um ano depois adotou o Euro como sua moeda oficial. Se Malta, Chipre e Grécia podem, por que nós não podemos também, começaram a se perguntar uns e outros, e entre os "outros" estavam povos como os Turcos, que se consideram a ponte entre Europa e Ásia, e talvez por isso mesmo, costumam inundar a Europa com seus emigrantes, 3 milhões só na Alemanha, imagine o que fariam se fossem admitidos como sócios do clube! Um enclave deste porte, com sua língua e religião próprias, é uma verdadeira pedra no sapato da cultura germânica, que há 80 anos atrás se propunha como raça ariana pura. 

Os prognósticos para o futuro europeu são os piores possíveis: 


  • Dívida impagável da Grécia e outros países do bloco, decorrente de empréstimos de grandes somas de dinheiro pelo Banco Central,  para países sem controles confiáveis, com altos índices de informalidade, corrupção e má gestão dos recursos públicos.  
  • Desigualdades imensas entre classes sociais em países muito diferentes entre si. O poder aquisitivo de um cidadão grego não pode ser comparado com o de um cidadão alemão ou francês. E o padrão monetário é o mesmo!
  • Imigração incontrolável oriunda de países da África e do Oriente Médio. Isso acelera as desigualdades e tende a tencionar as relações internas. No momento, a ITÁLIA passa por grande crise de imigração descontrolada, sem encontrar apoio efetivo da comunidade. Até quando vai arcar sozinha com as consequências? A tendência é que sub exporte os imigrantes para o centro do continente.  
  • Desintegração da sociedade tradicional européia. Uma mulher alemã ou francesa tem em média um filho per cápita. Já uma imigrante muçulmana tem em média quatro filhos (em seus países originais, a média é incríveis oito filhos por mulher).  Alguma dúvida de que a Europa está se islamizando? Independentemente da questão religiosa, se o Islão é melhor ou pior que o Cristianismo, o fato é que a Europa perderá sua identidade.
  • Desemprego como uma tragédia que atinge principalmente o futuro, ou seja, a juventude. Justamente os países que fizeram a maior parte dos investimentos sociais, Grécia, Portugal, Espanha e Irlanda, apresentam acima de 50% de desemprego para a população jovem. 
  • Redução dos salários. Conforme avança o desemprego, a redução do que as empresas pagam de salários é apenas uma consequência imediata. Em seguida decai a capacidade de consumo dos cidadãos, a arrecadação de tributos e o movimento econômico. Nada que já não saibamos a partir da nossa própria crise brasileira. 

Apesar dos aparentes fracassos, a Europa continua sendo o continente das melhores tradições da liberdade e do encantamento artístico, vivencial e culinário. Quando você está na frente da catedral de Notre Dame, do museu do Prado, do convento dos Jerônimos ou da Capela Sistina, tenha a certeza de que está diante da verdadeira cultura ocidental.  E não há preço que pague esse prazer!