domingo, 19 de julho de 2015

Portugal e a primeira favela.




A história de Portugal se perde nas brumas dos tempos pré medievais, quando partes de seu território foi ocupado por vários povos antigos, entre os quais os fenícios, depois os cartagineses. Tres séculos antes de Cristo a região entre os rios Douro e Minho estava ocupada pelos celtas, que nela se estabeleceram e se misturaram com os povos bárbaros nativos desde tempos imemoriais. Foi quando deu-se a invasão romana, que a ocupou por aproximadamente oito séculos, deixando impregnadas ali sua herança na cultura, nos costumes, na religião e na língua. Com o declínio do império romano, partes de Portugal foram ocupadas pelos mouros a partir do ano 800, vindos de suas colônias no sul da Espanha. Nessa época, os territórios ao norte de Portugal já estavam convertidos ao cristianismo e seus habitantes, fugindo ao assédio muçulmano, abrigaram-se na Galícia, que então pertencia ao reinado de Leão, atual Espanha. 



Coube aos reis de Leão os combates iniciais para expulsão dos mouros. Ao longo dos anos 800 e 900, a região foi palco de inúmeras batalhas, não apenas entre árabes e cristãos, mas também entre os próprios cristãos, pela disputa do território, num entra e sai, conquistas e retiradas que marcaram profundamente a região, ora anexando-a à Galícia, ora estabelecendo protetorados autônomos, comandados pelos nobres espanhóis que estivessem na sua posse transitória. 

Finalmente, em 1093 foi estabelecido o Condado de Portugal, como presente do rei de Leão à sua filha Tereza pelo seu casamento com Don Henrique de Borgonha, nobre que havia se destacado na luta contra os mouros. Agora Conde, Don Henrique passou a governar de modo semi autônomo o Condado Portucalense, que ia de Coimbra até a fronteira com a Galícia. 



Morto Don Henrique, seu filho Don Afonso Henriques se revoltou com a preferência que sua então regente e mãe, Dona Tereza, dava aos nobres galegos, em detrimento dos nascidos no Condado. Armou-se como "cavaleiro de armas", abandonou o castelo e passou a dedicar sua vida na luta contra os mouros, até que, em 1139, após uma importante vitória, Don Afonso Henriques foi aclamado Rei pelas suas tropas. Nascia, então, o Reino de Portugal, com capital em Coimbra. Em 1143, o Rei de Leão reconhecia a independência de Portugal e ajudou a organizar o exército, fornecendo soldados para a continuidade do combate aos Mouros, agora sob o comando de Don Afonso I. 

Em 1147, as tropas portuguesas conquistam Sintra e Lisboa, empurrando os muçulmanos na direção sul, de volta aos territórios da Andaluzia, de onde haviam saído tres séculos antes; e de onde seriam finalmente expulsos de volta à Africa ainda mais tres longos séculos depois.




Um evento importante na história de Portugal e da península ibérica veio a ser a transferência da capital para Lisboa. Isso deu-se no final do século XIV, em meio aos confrontos decorrentes da morte do rei Don Fernando, cujos herdeiros seriam espanhóis da linha dos nobres de Castela, contra os quais se revoltaram os negociantes de Lisboa, então já importante entreposto comercial àquela altura do ano 1380. Os ingleses, para variar, apoiaram as forças rebeldes que derrotaram os castelhanos, os quais, também para não romper a tradição, contavam com o apoio dos franceses. Finalmente, em 1385 um dos fidalgos vencedores do confronto militar é entronado como novo rei de Portugal, cujo primeiro ato foi transferir a capital de Coimbra para Lisboa.   

Em seguida, Portugal veio a ser uma grande potência, que substituiria com vantagens os reinos medievais da idade média em França, Itália, Alemanha e outras regiões da Europa. Foi o primeiro reino europeu a consolidar suas fronteiras, dentro de uma nação com língua e religião únicas. Estabeleceu-se como excelência em navegações de longa distância, a partir da escola de Sagres, referência mundial no assunto. Participou com Espanha das grandes descobertas de novos continentes, da travessia por mar para a Ásia, contornando o Cabo da Boa Esperança, extremo sul da África, desvendou a passagem para o Oceano Pacífico através do Estreito de Magalhães, ao sul da atual Argentina e Chile, etc. 

Com a vida ganha e mansa, o reino de Portugal ajudava o catolicismo na luta contra os mouros, pois, afinal, naqueles tempos o extinto império romano, que tinha elegido o cristianismo como padrão religioso, comandava o espetáculo ainda, através dos papas católicos, que nomeavam e destituíam reis, colocava um exército contra outro, formava alianças entre realezas, etc.



Logo após as grandes descobertas, foi entronizado um rei especial. Dizem que era um jovem muito culto e bonito, que morreu virgem e santo. Não tinha ambições especiais, mas, devido ao seu status nobre, foi obrigado a assumir o comando das tropas portuguesas, e, durante uma batalha no norte da África em 1578, o rei simplesmente sumiu. Seu corpo nunca foi achado. Tornou-se lenda. 

Com a morte de Don Sebastião, o reino de Portugal voltou às mãos espanholas, agora sob o controle do terrível Don Felipe II, cruel e vingativo, que simplesmente mandava matar  a todos que não professassem a religiosidade católica como ele imaginava ser a mais correta. Estabeleceu um tal reinado de terror, que levou a península ibérica de volta aos tempos tenebrosos da idade média. Em Madri, eram famosas as execuções de bruxas nas fogueiras armadas em pleno centro da cidade, tradição que se expandiu pelo reino até as principais cidades de Portugal,  e inclusive em alguns locais do nordeste brasileiro, especialmente contra muçulmanos e agentes religiosos do movimento reformista.





Em 1640, o Duque de Bragança declarou Portugal livre do império espanhol e iniciou uma nova dinastia. Por essa época, já no Brasil, o padre português Don Antonio Vieira escreveria uma série de poemas épicos, aos quais deu o nome de QUINTO IMPÉRIO, que seria, segundo sua visão artística e messiânica, a consolidação de Portugal como a quinta raça a comandar a humanidade, após os Assírios, Persas, Gregos e Romanos. Aqui, ele confundiria Civilização com Raça, mas, não estava de todo errado. Na verdade, a quinta raça estaria surgindo agora no Brasil, segundo alguns movimentos esotéricos bem posteriores ao Padre Vieira. 

Os descendentes dos Bragança estão até hoje consolidados como a família imperial brasileira. Muitos nobres dessa linhagem ainda vivem das propriedades imperiais estabelecidas na antiga capital Rio de Janeiro, e, principalmente em sua sede de verão, Petrópolis. 

O último episódio sebastianista brasileiro foi a Revolta de Canudos, onde Antonio Conselheiro amaldiçoava a recém proclamada república e dizia esperar a reencarnação de Don Sebastião, com a magnífica profecia de que "o sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão". Enquanto a profecia não se cumpre, o sebastianismo vai fazendo sua vingança: parte da população de Canudos que não pereceu sob as baionetas republicanas, foi levada prisioneira para o Rio de Janeiro. Ali, depois de "liberados", sem terem para onde ir, foram todos morar num morro no centro da cidade, a que os moradores deram o nome de Morro da Favela, em referência a um aglomerado então existente em Canudos, que tinha esse nome. Era apenas o começo da enorme vingança histórica, atávica e implacável.

Terrível. Como a história portuguesa!













Nenhum comentário:

Postar um comentário